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"A Alemanha está a ganhar qualquer coisa como 41 mil milhões de euros com a crise europeia graças à redução dos juros que lhe são cobrados." As conclusões são da revista alemã "Der Spiegel", que ontem fez eco de uma resposta do Ministério das Finanças alemão aos deputados locais, onde a real ideia de solidariedade de Berlim fica evidente: entre 2010 e 2014, com a sucessiva queda dos países europeus sob alçada da troika, os juros cobrados ao governo alemão caíram a pique, fazendo com que todas as previsões tenham saído furadas - mas neste caso os alemães até agradeceram.
Segundo a resposta dos responsáveis das finanças alemãs, Berlim vai poupar 40,9 mil milhões de euros (equivalente grosso modo a 25% do PIB português) em juros entre a despesa que tinha projectado de 2010 a 2014 e aquela em que realmente está a incorrer. Como exemplo veja-se que este ano os alemães projectavam um gasto de 40,6 mil milhões em juros e empréstimos, que afinal vão ficar-se pelos 31,6 mil milhões.
Este ganho não advém apenas da quebra dos juros cobrados às emissões de dívida da Alemanha - assustados pelo risco de outras economias europeias, os investidores passaram a emprestar dinheiro a um preço muito mais baixo aos alemães -, o ganho surge também devido à queda das próprias necessidades de financiamento alemãs. Ao contrário do que acontece na maior parte da zona euro, as contas públicas alemãs têm ganho durante a crise da Europa, já que o emprego, a indústria e as exportações estão a ganhar terreno no mercado europeu, aumentando as receitas fiscais do país.
A entrada de dinheiro nos cofres alemães cresceu em tal ordem que só entre 2010 e 2012 o governo local acabou por emitir menos 73 mil milhões de nova dívida do que esperava (valor que equivale a mais de 34% da dívida do Estado português).
Os valores avançados pelo governo de Angela Merkel ainda referem que a exposição de Berlim à dívida de curto prazo (mais cara que a de longo prazo) caiu neste período de 71% do total, para apenas 51%, com os alemães a aproveitarem o seu boom económico para mudar substancialmente o perfil da sua dívida.
Apesar de todos estes ganhos, nos números citados pela revista "Spiegel" não estão incluídos, por exemplo, os lucros da Alemanha com os empréstimos feitos à Grécia ou a Portugal, por exemplo. Ainda assim, diz o documento do ministério de Wolfgang Schaüble, até ao momento a crise europeia custou aos alemães 599 milhões de euros - isto quando Portugal vai pagar um total de 34,4 mil milhões de euros só em juros pelo empréstimo solidário da troika, ou seja, os 78 mil milhões da "ajuda" internacional vão custar 112,4 mil milhões aos contribuintes residentes em Portugal.
A economia alemã cresceu 0,7% no segundo trimestre deste ano, tendo alguns dos seus ganhos económicos ajudado parcialmente a conter a dimensão da crise nos outros países europeus, com o aumento das importações do país.