in Lusa
Pobres têm de ser convidados a participar na solução da pobreza - EAPN Portugal
O presidente da Rede Europeia Anti-Pobreza, Jardim Moreira, defendeu hoje que "os pobres têm de ser convidados" a participar na solução dos seus problemas, e insistiu na criação de um plano nacional para um combate eficaz à pobreza.
Estas e outras questões vão estar em debate na terça e na quarta-feira, na Figueira da Foz, no VII Fórum Nacional de Combate à Pobreza e Exclusão Social, promovido pela EAPN Portugal para assinalar o Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza (17 de outubro).
"Queremos sensibilizar a população e as entidades nacionais para este fenómeno cada vez mais aflitivo que é o número de pobres em Portugal", cerca de 2,7 milhões, disse à agência Lusa o padre Jardim Moreira.
Mas não há uma "resposta única" para combater o problema da pobreza, cujas causas são "complexas, multifacetadas e plurais" e com origens na educação, na alimentação, na habitação, na saúde, no emprego.
"Se não houver uma política articulada entre todos estes setores (...) achamos que não é possível ultrapassar a resposta imediata e assistencialista" ao problema da pobreza, sustentou Jardim Moreira.
Para o presidente da EAPN, apenas se conseguirá obter "uma resposta justa e integradora de todos os pobres em Portugal" através de uma estratégia "global e articulada" assente num plano nacional.
"Até agora tem-se insistido muito na resposta alimentar para que ninguém morra de fome, e estou de acordo, mas temos de dar outros passos para a construção de uma sociedade integrada e mais igualitária", defendeu.
Entre esses passos, apontou, estão "políticas estruturadas e participativas dos próprios pobres".
"Não podemos pensar que é despejando dinheiro nos pobres que se resolve a pobreza, eles têm de ser convidados a participar na solução dos seus problemas para não criarmos pessoas subsidiodependentes", sublinhou Jardim Moreira.
Esta participação passa pela sua formação para que possam aceder a formas de trabalho mais qualificadas.
"Tem-se falado muito na formação, mas é formação de estágio, e os não qualificados ficam de fora, uns porque já não acreditam em nada, outros porque já estão saturados, mas a grande razão é porque não há grande resposta para as suas situações", frisou.
O Fórum vai também refletir sobre o papel da Europa no mundo no combate à pobreza, no âmbito do Ano Europeu para o Desenvolvimento.
"Num contexto de plena perda de direitos sociais, é necessário defender e apostar no papel relevante que os cidadãos assumem na defesa dos direitos humanos, sobretudo das pessoas que se encontram em situação de maior fragilidade", refere a EAPN.
Para o presidente da EAPN Europa, Sérgio Aires, já foram conseguidos alguns resultados positivos na luta contra a pobreza, mas ainda "muito longe de conseguir atingir aquilo que seria o desejo de qualquer ser humano", não haver "nenhum cidadão a viver em situação de pobreza e que os direitos básicos e fundamentais sejam respeitados".
"Temos um problema mais estratégico e estrutural. Se é verdade que nalguns continentes a pobreza conseguiu ser reduzida nas suas formas mais extremas, no caso do continente europeu, particularmente da União Europeia, não é isso que se está a passar", antes pelo contrário, lamentou.
Para Sérgio Aires, esta situação deve-se ao modelo de crescimento económico e financeiro adotado que "não põe em primeira instância o bem-estar das pessoas, mas o lucro de alguns em detrimento da pobreza dos outros".
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