Patrícia Jesus, in Diário de Notícias
Organização diz que acordo põe em risco "o próprio conceito de refugiado"
Os Médicos Sem Fronteiras (MSF) anunciaram que vão rejeitar todo o financiamento da União Europeia (UE) e dos países estados-membros em protesto contra o acordo com a Turquia para travar e entrada de refugiados e migrantes no espaço europeu.
"O acordo UE-Turquia é o último numa longa linha de políticas que vão contra os princípios fundamentais que permitem o apoio a pessoas em necessidade extrema", explicou o secretário-geral da organização, Jerome Oberreit, à Reuters. "Isto põe em risco o próprio conceito de refugiado".
No acordo, conseguido em março, a Turquia aceitou travar a passagem de refugiados pelo seu território - uma das rotas de entrada na Europa - em troca de apoios financeiros e de avanços nas negociações políticas de adesão à UE.
A MSF, que está presente em zonas de catástrofe em todo o mundo, diz que vai perder 56 milhões de euros de financiamento - 37 milhões dos países e 19 das instituições europeias. No curto prazo vai cobrir a falta de fundos com reservas de emergência, disse Oberreit.
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"É importante ver as pessoas reais em vez do joguete político em que se transformaram", acrescenta o responsável, defendendo que o acordo não fez nada para resolver o problema, apenas permitiu à Europa fugir às suas obrigações. Aliás, segundo Oberreit, a UE está em negociações com outros 16 países, da Somália à Eritreia, para continuar esta política.
A organização teme ainda que o "exemplo europeu" tenha efeito noutros países. "Está claramente a passar a mensagem de que tomar conta das pessoas obrigadas a fugir das suas casas é opcional". O Quénia, por exemplo, referiu o acordo como uma das razões para os seus planos de fechar o maior campo de refugiados do mundo, o que implica enviar 330 mil pessoas para a Somália.
Com Reuters