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Vandalismo, insultos na internet e agressões físicas. Depois do referendo, aumentaram os crimes de ódio no Reino Unido. Portugueses também são alvo.
Multiplicam-se os episódios de racismo e xenofobia no Reino Unido, depois do referendo que ditou a saída do país da União Europeia (“Brexit”).
Uma reportagem da Lusa revelou, esta terça-feira, que cidadãos portugueses a viver no Reino Unido foram vítimas de ataques racistas. Os incidentes aconteceram em Londres, País de Gales ou Norfolk, disseram à agência Lusa vários membros da comunidade portuguesa, que acrescentaram que nem todos são divulgados por receio de reprovação ou represálias. Nem a Embaixada nem o Consulado portugueses de Londres receberam denúncias oficiais de ataques a portugueses e a polícia britânica também não confirmou casos específicos nacionais.
A sede da comunidade polaca em Londres foi pintada com a inscrição “vão-se embora”. Nas redes sociais multiplicam-se os insultos a minorias étnicas e os vídeos que mostram actos xenófobos
“O resultado do referendo parece que concedeu autorização às pessoas para expressarem racismo e xenofobia”, comentou um elemento do centro polaco de Hammersmith, em Londres, citado pela France Press.
O chefe do Conselho Nacional da Polícia disse que se registaram 85 casos de crimes de ódio através da internet entre quinta-feira (dia do referendo) e sábado da semana passada, correspondendo a um aumento de 57%, comparado com o que se verificou no mês de Maio.
Vídeos publicados na internet mostram insultos racistas nas ruas
Uma série de autocolantes com a frase “Deixem a União Europeia: não queremos aqui a bicharada polaca” foram espalhados na zona onde se concentra a comunidade em Huntingdon, perto de Cambridge, no passado sábado.
John O’Connell, do grupo anti-racista Far Right Watch disse que foram detectados mais de 90 incidentes nos últimos três dias, que incluem insultos verbais e agressões físicas.
O presidente da Câmara de Londres, Sadiq Khan, disse na segunda-feira que colocou a polícia municipal em alerta, em virtude dos incidentes que se têm verificado. Khan sublinhou que encara com “seriedade e responsabilidade” a defesa da “fantástica mistura de pessoas, a diversidade e a tolerância”.
“Façam as malas e vão-se embora”
A sede da comunidade polaca em Londres foi vandalizada. A fase “Vão-se embora” chocou Joanna Ciechanowska, directora da galeria que funciona no interior das instalações do Polish Social and Cultural Association (POSK), em Hammersmith.
“Este sentimento é uma mistura entre o desgosto e o medo. Nós temos o centro a funcionar desde 1962 e nunca tivemos de nos confrontar com actos de racismo”, disse Joanna Ciechanowska à France Press.
A responsável pelo centro da comunidade polaca em Londres aponta como causa as mensagens que foram utilizadas durante a campanha do referendo.
“É muito preocupante. Ouço amigos que viajam de comboio e que dizem que as pessoas que se sentam ao lado, de um momento para o outro, lhes dizem directamente: ‘Façam as malas e vão-se embora’. Se as pessoas que tinham um grão de agressividade dentro delas, o referendo fez com que tudo saísse cá para fora", relatou Ciechanowska.
A embaixada da Polónia já manifestou “choque e preocupação” sobre os incidentes e “abusos” contra a comunidade polaca no Reino Unido.
Cameron denuncia “crimes” e “ódio
O primeiro-ministro britânico, David Cameron, já criticou “a série de reprováveis” incidentes que se seguiram à decisão sobre o abandono do Reino Unido da União Europeia.
“Nos últimos dias, temos visto inscrições lamentáveis que atingem o centro comunitário polaco e elementos de minorias étnicas têm sido alvo de insultos verbais”, disse Cameron.
O primeiro-ministro demissionário afirmou também que é preciso ter presente que os membros das minorias estão no Reino Unido tendo contribuído de forma muito importante para a sociedade britânica. “Não vamos apoiar os crimes e o ódio ou qualquer tipo de ataques do género, que devem terminar”, concluiu.
“The Sun” alvo de críticas
Sayeeda Warsi, política conservadora que mudou de opinião a meio da campanha e votou pela manutenção do Reino Unido na União Europeia, tem também criticado abertamente os incidentes xenófobos dos últimos dias.
“Eu passei o último fim-de-semana em contacto com organizações, pessoas e activistas que estão atentos em relação aos crimes de ódio e que relatam situações preocupantes. Encontram pessoas na rua que lhes dizem: ‘Nós votamos pelo 'Brexit', por isso, chegou a hora de vocês se irem embora’”, relata Sayeeda Warsi à Sky News.
O popular jornal “The Sun”, assumido apoiante do 'Brexit' tem estado a ser alvo de críticas, depois de ter publicado o título: “As ruas estão cheias de lojas polacas, de miúdos que não falam inglês (…), mas agora as bandeiras britânicas foram hasteadas, outra vez”.
Shashank Joshi, membro do "think-tank" RUSI, disse que o artigo do “é totalmente vil” e acusou o “The Sun” de responsabilidade pelos incidentes e ataques que se têm registado no Reino Unido.
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