por Notícias de Coimbra
A Rede Europeia Anti-Pobreza (EAPN) – Portugal, que desde 1994 trabalha em projetos de educação e de inclusão social das comunidades ciganas, sublinha como um dos frutos da sua persistência o ingresso na faculdade de 25 pessoas daquela etnia.
A diretora executiva da EAPN, Sandra Araújo, destacou à Lusa a “visibilidade” que este projeto começa a ter, o que acontece poucos dias depois do lançamento de uma campanha nacional contra a discriminação das comunidades ciganas, denominada “Direito a serem o que quiserem”.
Na campanha, que conta como embaixadores com a apresentadora de televisão Catarina Furtado e o diretor geral de Saúde, Francisco George, participam crianças de ambos os sexos oriundas de comunidades ciganas da Maia, Braga e Coimbra.
A iniciativa inspira-se no trabalho desenvolvido em Espanha pela Fundación Secretariado Gitano, uma Organização Não Governamental (ONG) que tem cerca de 800 profissionais, “metade deles de raça cigana e com uma implementação muito forte”, mas, frisa Sandra Araújo, a EAPN debate-se com uma “realidade ainda muito diferente em Portugal”.
Sem dados seguros sobre o número de ciganos a residir em solo nacional, a EAPN “vê-se limitada pelo facto de, por lei, ser considerada discriminação, em contexto de estudo ou de censo, perguntar qual a etnia do cidadão”, explicou a diretora executiva.
Mas de um levantamento feito com o apoio das autarquias, a EAPN “fixou um número aproximado de 35 mil residentes”, disse a diretora, frisando que este é um trabalho continuado no terreno ” com abordagens diretas de sensibilização para a integração social através da educação e empregabilidade”.
“Houve entretanto uma mudança importante. Já são eles que vêm ao nosso encontro, algo impensável há 10 ou 15 anos. Há comunidades ciganas que já têm trabalho apresentado”, descreveu.
Segundo Sandra Araújo, “apesar do país ainda estar longe do pretendido, já foram conseguidas conquistas importantes e, por exemplo, há 25 estudantes ciganos em licenciatura”.
“Qualquer mudança de mentalidade demora muito tempo a materializar-se, mas uma das conseguidas é a forma como passaram a comparecer aos nossos eventos, quer para assistir, quer para participar, funcionando como a luz que vai à frente na sua comunidade”, congratulou-se.
Com projetos e investigação feitos no âmbito da pobreza nos 26 anos que leva em Portugal, a EAPN, frisou a diretora, tem pautado a sua relação com o Governo “por uma intervenção muito crítica”.
“Nomeadamente entre 2008 e 2014, com o recuo verificado nos direitos sociais adquiridos, sentimo-nos muito desprotegidos”, confessou Sandra Araújo, lembrando o protocolo que têm com o Instituto da Segurança Social.
E prosseguiu: “Foi humilhante abrir indiscriminadamente em todos os territórios cantinas para que as pessoas com necessidades pudessem recorrer”.
“Lutar contra a pobreza não é apenas matar a fome às pessoas”, frisou a diretora, lembrando o esforço ao longo dos anos da EAPN “de implantação de uma estratégia nacional de combate” ao flagelo.
Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS) fundada em 1991 e distribuída por 18 núcleos distritais, EAPN é presidida pelo Jardim Moreira.