26.7.17

De Portugal para a Europa: "jovens querem desenvolvimento pessoal"

Nuno Castilho de Matos, in DNotícias

Helena Gandra saiu de portugal com 18 anos para estudar. Hoje, com 25 mantém o regresso sem data marcada. O exemplo de uma geração que cresceu sem fronteiras, na voz da primeira voluntária do Corpo Europeu de Solidariedade.

25 anos, ar de menina, sorriso fácil e uma carregada pronúncia do Porto. Helena Gandra nasceu na invicta, viveu em Braga e hoje está em Bruxelas. Pelo meio? Passou pelo Reino Unido, Alemanha, Polónia até chegar à Bélgica.

Helena faz parte de uma geração que viveu sempre sem fronteiras dentro da União Europeia (UE) e que tira partido dessa situação. Para ela, a visão de fazer parte de um país vive num novo paradigma. A jovem diz que será sempre portuguesa, "mas sou parte da União Europeia?.

?Hoje em dia os jovens já não querem só fazer carreira. Querem também desenvolvimento pessoal e ajudar o próximo?, aponta Helena Gandra.

A conversa com a jovem portuguesa decorreu em Bruxelas, no Centro Europeu de Voluntariado, a propósito do Corpo Europeu de Solidariede (CES). Helena foi a primeira voluntária portuguesa deste programa europeu que promove o voluntariado para jovens entre os 18 e os 30 anos, em toda a UE.

Portugal é o terceiro país com mais inscritos no CES (3 272). À frente de Portugal está Itália no topo da tabela e depois Espanha. A seguir a Portugal aparece Alemanha e depois França. Ao todo, o Corpo Europeu de Solidariedade já recebeu 32 539 inscrições desde o final do ano passado.

Entre sorrisos nervosos e alguma vergonha, assim que se sentou numa sala com alguns jornalistas portugueses, Helena atirou: ?Eu não posso prometer que o meu português esteja no seu melhor porque eu já não estou em Portugal há sete anos?.

Mas não foi a língua a parte que mais mudou em Helena. O português com forte sotaque do Porto continua lá. A mentalidade é que já não é a mesma.

?Saí [de Portugal] porque achei que precisava de me desenvolver fora do país, para um dia voltar e apreciar mesmo as qualidades que o nosso país tem?, sublinha Helena. E quer voltar a Portugal para viver? ?Sim, um dia?. Mas não sabe quando.

Saiu de Braga com 18 anos, depois de ter estudado no Conservatório de Música Calouste Gulbenkian, onde teve a primeira experiência de interação com jovens de outros países, através do projeto Comenius. Rumou a Londres para estudar música e foi trabalhando para ganhar dinheiro. ?Eu não sou rica?, atira.

Terminou a licenciatura e seguiu para a Alemanha. Não sabia falar alemão mas aprendeu rapidamente, enquanto dava aulas de inglês, para ganhar algum dinheiro. Ganhou também a vontade de saber mais sobre as questões da União Europeia, que concretizou num mestrado em Estudos Europeus na Universidade de Flensburg. No segundo ano do mestrado lançou-se num programa de intercâmbio académico, Erasmus +, e arrancou para a Polónia onde estagiou no banco de investimento Credit Suisse. Foi nessa altura que estreitou a ligação à Comissão Europeia e à solidariedade social. Ganhou o gosto pelo voluntariado.

No final do estágio, teve que escolher entre dois convites: continuar no banco ou ir para Bruxelas estagiar. O convite da Comissão Europeia saiu vencedor e Helena não olhou para trás.

Em dezembro de 2016, foi lançado o Corpo Europeu de Solidariedade para jovens dos Estados-Membros que queiram ser voluntários em projetos nacionais ou internacionais. Helena Gandra inscreveu-se imediatamente. Foi a primeira voluntária portuguesa.

Os jovens que se inscrevem no CES podem ser selecionados para projetos que podem ir desde apoio a refugiados, prevenção ou reconstrução na sequência de catástrofes naturais ou questões ambientais.

Os projetos podem durar entre dois e 12 meses e decorrem, regra geral, em países da União Europeia. Os candidatos podem inscrever-se para estagiar, trabalhar ou fazer voluntariado.

"Quando da inscrição, as informações sobre os jovens são guardadas na base de dados do Corpo Europeu de Solidariedade, que é consultada pelas organizações que procuram participantes para os seus projetos. As organizações selecionam os participantes que lhes interessam e convidam-nos a participar nestes projetos", pode ler-se nas explicações que estão no Portal Europeu da Juventude.

Oiça, na primeira pessoa, a história de Helena Gandra: