31.8.20

Pandemia vai “acelerar e aumentar” a pobreza, a subnutrição e a fome


“Esta fé inabalável na existência de um supermercado global aberto 24 horas em que a qualquer momento, desde que nós tenhamos recursos para isso, podemos ir comprar comida e com isso resolvemos os problemas alimentares das nossas populações, é, obviamente, uma falácia”.

O alerta é lançado em entrevista à VATICAN NEWS por Francisco Sarmento, ex-representante da FAO em Portugal e Junto da CPLP, especialista em sistemas alimentares das Nações Unidas.

“A epidemia não vai causar uma mudança naquilo que já se vinha assistindo, “mas “acelerar e aumentar o número de pessoas que vão estar em situação de pobreza, e como tal, vão estar à beira da subnutrição e da fome”.

Tendo presente a situação no mundo e em particular nos países da CPLP, Francisco Sarmento refere que “poderíamos estar a considerar no mínimo cerca de 25 milhões de pessoas que poderiam vir a estar à beira da fome, mas esse número poderia atingir facilmente 50 milhões do conjunto dos países em função das consequências da pandemia”.

“Isto depende naturalmente da intensidade e da duração das medidas sanitárias, e, obviamente, da duração de todo este problema”, diz aquele responsável que explica que “o resultado é também, obviamente, um aumento brutal da pobreza sem que esses países tenham as condições de estabelecer políticas de proteção social que amorteçam esse impacto”.

“Eu diria que o peso da economia informal, a dependência da importação de alimentos, a falta de políticas de proteção social, estes três fatores conjugados com a baixa do mercado internacional, dos tradicionais produtos de exportação destes países, geram uma tempestade perfeita em termos de consequências sociais, e se materializam depois, obviamente, nas questões relacionadas com a fome”, precisa.

Ao Portal da Santa Sé este especialista em sistemas alimentares das Nações Unidas destaca a atualidade da encíclica do Papa Francisco, a ´Laudato Si´, em defesa de uma ecologia integral, esperando que “as palavras do papa venham, de facto, a materializar-se em ações mais concretas, porque elas fazem todo o sentido”.

Domingos Pinto – Lisboa