por Paula Cordeiro, in Diário de Notícias
Aumento de juros, subida de impostos directos e crise no mercado de trabalho. Tudo isto vai penalizar portugueses
As famílias portuguesas vão assistir a uma redução do seu rendimento disponível em 2010 e 2011, condicionado por um aumento gradual dos juros e pelas medidas orçamentais. Entre estas, de destacar o "aumento dos impostos directos pagos pelas famílias". Os salários reais, esses, vão continuar a reflectir "as condições adversas do mercado de trabalho".
Este é o quadro geral da realidade económica que os portugueses vão enfrentar este ano e no próximo, apontado pelo Banco de Portugal no seu Boletim de Primavera, ontem divulgado.
No documento, a autoridade liderada por Vítor Constâncio revê em baixa as previsões de crescimento para 2010 e 2011 da economia portuguesa, reduzindo dos anteriores 0,7% para 0,4%, o aumento do PIB para este ano. Para 2011, a economia portuguesa, em vez de crescer os 1,4% anteriormente apontados pelo Banco de Portugal no Boletim de Inverno, deverá apresentar uma evolução positiva de 0,7%. Ou seja, uma redução ainda maior, de 0,6 pontos percentuais, que a efectuada para o corrente ano, de 0,3 pontos.
São valores mais pessimistas do que os do Governo, que estima um crescimento de 0,7% e 0,9%, ao longo destes dois anos. Comparando as previsões do Banco de Portugal com as do Eurostat, Portugal registará o sexto crescimento mais baixo da Zona Euro para este ano e o mais reduzido de 2011, em parceria com a Grécia (ver infografia).
De acordo com o banco central, a aplicação do OE e do Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC) traduzem um aumento de impostos, uma posição que contrasta com a do Governo, que afasta esta conclusão da leitura de aplicação do referido programa.
Num quadro macroeconómico em que os salários reais vão continuar a reflectir a crise do mercado de trabalho e os restantes rendimentos deverão ser condicionados pelo aumento gradual dos juros e pelas medidas contidas no OE, o consumo privado vai registar "uma forte desaceleração ao longo de 2010 e um baixo crescimento em 2011", refere o boletim.
Com efeito, a previsão para os gastos a efectuar pelas famílias aponta para uma variação de 1,1% este ano, caindo para 0,3% em 2011, em consequência dos efeitos referidos. Para estes valores contribui igualmente uma estabilização da taxa de poupança dos particulares, em cerca de 7% do rendimento disponível em 2010 e 2011, contra 8,6% no ano passado.
O Banco de Portugal alerta para o risco que a economia portuguesa enfrenta, em relação "à percepção dos participantes nos mercados financeiros quanto ao processo de correcção do desequilíbrio orçamental e ao seu eventual impacto sobre as condições de financiamento externo dos agentes económicos nacionais". Daí, conclui, a necessidade de manter "uma estratégia de consolidação orçamental credível"