26.3.10

Estudo: Alunos só se sentem seguros se tiverem armas

por Ana Bela Ferreira, in Diário de Notícias

Trabalho patrocinado pela OMS mostra que estudantes que usam X-actos e canivetes nunca têm medo.

Na escola E B 2, 3 de Vialonga, é comum professores, alunos e famílias sentarem-se à mesa para um almoço de turma. Para aproximar os pais da escola, responsabilizando-os pelo sucesso dos filhos, foi ainda criado o gabinete de apoio onde são acompanhados problemas sociais. Já que este tipo de problemáticas se reflecte no aumento de violência nas escolas, indica um estudo patrocinado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

O mesmo estudo, a que DN teve acesso, refere que os alunos violentos que usam armas (x-actos e navalhas) na escolas portuguesas são os que se sentem mais seguros. A violência entre alunos afecta 80% das escolas analisadas.

Para prevenir estes fenómenos, o agrupamento da Vialonga criou ainda três orquestras, em que 160 alunos aprendem a tocar e a projectar o futuro. Estas são algumas estratégias de prevenção da violência e do abandono escolar, implementadas nesta escola designada como território educativo de intervenção prioritária (TEIP) em 1996. Os resultados, afirmou ao DN a directora da escola, Arminda Fonseca, traduzem-se na melhoria do sucesso escolar e dos comportamentos dos alunos.

Medidas como estas são também defendidas pela psicóloga Margarida Gaspar de Matos, coordenadora nacional daquele estudo patrocinado pela OMS que analisa os comportamentos dos jovens em idade escolar. Esta observação, feita em 134 escolas, em 2006, conclui que 16,4% dos estabelecimentos têm mais situações de violência do que o normal, 70, 9% apresentam alguns casos de violência e apenas 12,7% se distinguem pelo baixo envolvimento em situações violentas. Foram analisados 11 008 alunos, do 6.º, 8.º e 10.º anos. Estes foram divididos em três grupos. Os que não se envolvem em violência (73,8%), os violentos que não recorrem a armas (20,9%) e aqueles que usam armas quando são violentos (5,4%). Entre todos, apenas os que usam armas referem que nunca se sentem irritados, tristes, deprimidos ou com medo, adianta Margarida Gaspar de Matos. Enquanto os outros dois grupos dizem sentir estas emoções quase todos os dias. "Isto mostra que as armas dão uma sensação de segurança", refere. Margarida Gaspar de Matos sublinha, porém, que a maioria dos alunos não são violentos. Apesar de mais de 80% das escolas ter registado episódios de violência entre os alunos.

Estes estudos da OMS são feitos de quatro em quatro anos em vários países do mundo, estando já a ser preparado o relatório de 2010. Mas a investigadora adianta que uma das conclusões deverá ser a diminuição dos fenómenos de bullying, apesar dos casos recentes que vieram a público.

É que, explica, o que tem aumentado são as denúncias e a mediatização. E isso faz baixar a violência, pois este fenómeno "vive do carácter secreto em que os agressores intimidam as vítimas e, a partir do momento em que se denunciam os casos, perde esse aspecto". O combate ao bullying, à violência e à indisciplina é hoje discutido no Parlamento, a pedido do CDS-PP.