23.3.10

Especialista defende consumo de água da torneira

in Jornal de Notícias

Dia da Água


Uma perita independente das Nações Unidas para o direito à água sugeriu que o Governo pusesse de lado as garrafas nos eventos que organiza, substituindo-as por água da torneira.

Em declarações à Lusa, Catarina de Albuquerque afirmou, ontem, Dia Mundial da Água, que o consumo de água engarrafada é prejudicial ao "ambiente e à carteira". E salientou que, em Portugal, a água da torneira "cumpre as directivas da União Europeia" em matéria de qualidade", pelo que "não há razão para não se beber".

A título de exemplo, a especialista explicou que engarrafar água gasta duas mil vezes mais energia do que tê-la a sair da torneira e, ao comprá-la, o consumidor paga mil vezes mais por um litro do que o que paga a uma companhia de distribuição de água canalizada pela mesma quantidade.

A mudança de hábitos tem de começar com "um exemplo de cima", pelo que a especialista sugere que o Governo adopte o consumo de água da torneira nos eventos que organiza, à semelhança do que já fizeram outros países europeus, como o Reino Unido e a Suécia. Até porque se em Portugal "a qualidade da água foi um problema durante muito tempo", nos "últimos 15 a 20 anos têm sido feitos progressos enormes".

Relatório acusa indústria

O Dia Mundial da Água, assinalado ontem, visa alertar para a necessidade do correcto e eficiente uso da água e, este ano, teve como tema "Água Limpa para um Mundo Saudável".

Também ontem, em Nairobi, no Quénia, um conjunto de cientistas e peritos da ONU, reunidos em conferência durante três dias, alertaram para a crise da água no mundo, caracterizada por elevada contaminação e por perspectivas de escassez. Anualmente, 1,8 milhões de crianças com menos de cinco anos morrem por doenças causadas pela água e 2600 milhões de pessoas não dispõem de condições sanitárias adequadas, revelou um relatório do Programa da ONU para o Meio Ambiente. O responsável da ONU para a Água, Adeel Zafar, afirmou que a indústria é responsável pelo lançamento em cada ano de 300 a 400 milhões de toneladas de metais, dissolventes, substâncias tóxicas e outros detritos na água, declarando que "essa contaminação releva da ignorância e arrogância". A situação, sublinhou, requer uma acção global urgente.

Em Portugal, a ministra do Ambiente, Dulce Pássaro, assinalou o Dia Mundial da Água, participando no 10.º Congresso da Água, no Algarve, onde estiveram mais de 400 especialistas nacionais e estrangeiros para discutir as problemáticas relacionadas com os recursos hídricos. Também prsente, a vice-presidente da Associação Portuguesa dos Recursos Hídricos, Alexandra Serra, afirmou que o grande desafio para o futuro é justamente a qualidade nos meios hídricos.