in RTP
"É muito fácil distrairmo-nos se há menos dinheiro nos mercados económicos globais e se as pessoas em posições de poder têm acesso a fluxos ilícitos"
A crise não deve servir como desculpa para adiar o combate à pobreza, defende o reverendo Joel Edwards, diretor do Desafio Miqueias, que desempenha uma vigilância sobre os líderes mundiais relativamente ao cumprimento dos Objetivos do Milénio. O reverendo considera que os progressos são dificultados em particular pela corrupção e aponta o exemplo de Angola e Moçambique, lembrando a relação particular de Portugal com aqueles parceiros africanos.Combater a pobreza mundial depende apenas da vontade política
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A jornalista Sofia Branco falou com Joel Edwards antes de o reverendo proferir a conferência "Uma agenda para a mudança", a convite da Associação Miqueias em Portugal. À jornalista da Lusa, o também conselheiro da Fundação Tony Blair rejeita a ideia de que o combate à pobreza esteja dependente da saúde financeira dos países. Pelo contrário, assegura Joel Edwards, basta que haja “vontade política”.Objetivos de Desenvolvimento do Milénio:
1. Erradicar a pobreza extrema e a fome
2. Alcançar a educação primária universal
3. Promover a igualdade do género e capacitar as mulheres
4. Reduzir a mortalidade infantil
5. Melhorar a saúde materna
6. Combater o HIV/SIDA, a malária e outras doenças
7. Assegurar a sustentabilidade ambiental
8. Desenvolver uma parceria global para o desenvolvimento
"Não é uma questão de escassez de dinheiro, (porque) milhares de milhões de dólares foram despejados, necessariamente, na economia mundial, para enfrentar a crise financeira de há dois anos", refere Edwards, acreditando que, "se a vontade política apoiar o poder financeiro, poderemos reduzir a pobreza extrema em 50 por cento até 2015", um dos Objetivos do Milénio.
É neste sentido que Joel Edwards rejeita que a crise internacional sirva como desculpa para travar os progressos que têm vindo a ser conseguidos na luta contra a pobreza extrema: esta crise não pode ser "uma desculpa para não se fazer o que deve ser feito".
O diretor da Associação Miqueias lembra a este respeito que nos últimos 25 anos a pobreza extrema foi reduzida de 52 por cento para 26 por cento, números que demonstram “ser possível erradicá-la".
Luta contra a pobreza significa luta contra a corrupção
Percorrendo a linha da crise à escassez financeira, passando pelos fluxos ilícitos de capital, Joel Edwards vê na corrupção um dos grandes entraves ao Objetivo de Desenvolvimento do Milénio relacionado com a pobreza, nomeadamente nas nações africanas: "É muito fácil distrairmo-nos se há menos dinheiro disponível nos mercados económicos globais e se as pessoas em posições de poder têm acesso a fluxos ilícitos" de capital.
Aqui o reverendo Edwards deixa um olhar muito crítico em relação a Angola e Moçambique, eventualmente por se encontrar em Portugal, a falar com uma jornalista portuguesa.
Considerando que o combate à corrupção é um elemento central no combate à pobreza, o diretor do Desafio Miqueias explica que são perdidos "entre 1 a 1,5 biliões de dólares todos os anos através de fluxos ilícitos, corrupção e má governação".
O montante perdido nestes circuitos criminosos representa dez vezes o valor necessário para atingir os oito Objetivos do Milénio no tempo previsto: apenas "130 mil milhões de dólares por ano", nas palavras de Edwards.
"Vemos crescentes níveis de compromisso com a boa governação em países como o Malawi, mas ainda há um longo caminho a percorrer em sítios como Moçambique e Angola", aponta o reverendo, lembrando que Luanda "ocupa o quarto lugar a contar do fim na tabela da corrupção".
Neste capítulo, o diretor do Desafio Miqueias acena com uma espécie de missão a Portugal: "Tem uma oportunidade incrível e uma vantagem em relação a países como Moçambique e Angola, onde há uma grande percentagem de investimento português".