26.4.11

Saiba como os estudantes estão a promover os Objectivos do Milénio

Andrea Duarte, in Diário Económico

A iniciativa “Make it Possible”, que contou com a participação de 900 alunos de todo o país e voluntários dos quatro cantos do mundo, terminou a semana passada, em Lisboa.

Vieram da Polónia ou dos arredores de Lisboa, da Finlândia e da Covilhã. Juntam-se num auditório para a sessão final do ‘Make It Possible', mas a cabeça deles tem outro nome a ressoar: Objectivos do Milénio. Um rapaz franzino, de óculos, levanta-se, vai até ao palco e faz um breve discurso sobre a foto que submeteu a concurso. "Para que mais ninguém morra à sede", conclui o jovem. Este é, aliás, um dos Objectivos do Milénio e estes são os jovens que querem fazer com que eles sejam cumpridos.

Lado a lado no auditório do ISCTE-IUL, estão voluntários estrangeiros de 20 e poucos anos e alunos do ensino secundário português. Participaram no projecto ‘Make It Possible' (MIP), uma iniciatica da AISEC, plataforma internacional de estágios e voluntariado gerida por estudantes, integrada nos Objectivos de Desnvolvimento do Milénio (ODM). Nas respectivas universidades portuguesas, à mesma hora, estão os 270 estudantes que participam no ‘Campus Challenge', um concurso da agência ODM pensado para "os espicaçar a sair do sofá", nas palavras de Sara Dias, coordenadora da agência (uma organização não governamental criada pela associação PAR e pela Campannha Objectivo 2015).

"Os ODM, para nós, são uma oportunidade para provarmos que não somos a geração nem-nem, que não somos a geração à rasca: somos, sim, uma geração, como as anteriores e como as futuras, com vontade de mudar o que achamos que está mal no mundo", opina Maria João Dornelas, que integra uma equipa que concorre no ‘Campus Challenge'.

Para Alicia, que veio da Polónia para dar aulas e organizar acções de rua com os alunos do secundário do MIP, "este projecto está focado nos direitos humanos e em lutar contra a pobreza, que são as coisas mais importantes em que o nosso mundo tem de pensar agora".

E, ao que parece, os alunos mais novos ficaram com a lição bem estudada. Miguel Ângelo, de 20 anos, da Covilhã, diz que esta "foi uma oportunidade de vermos alguns problemas que há na nossa sociedade e de fazer alguma coisa para melhorá-la". Sara, de 17 anos, veio de Loulé, mas fala das acções que a sua turma fez em Faro. "Quando fizemos o evento em Faro, muitas pessoas recebiam os panfletos e não sabiam o que eram os ODM. E a partir dali souberam". A colega Catarina, de 19 anos, ajuda a lembrar: " também fizemos uma recolha de luvas descartáveis, sabão azul e branco e soro fisiológico para depois, através da Associação de Planeamento Familiar, mandarmos para África, para ajudar as crianças que têm doenças, para tentar reduzir a taxa de mortalidade infantil, que é um dos ODM".

No ‘Campus Challenge' as acções são das mais variadas. "Temos, neste momento, mais de 400 desafios feitos, desde ciclos de cinema, conferências, acções de sensibilização em sala de aula, activismo de rua...", conta Sara Dias. Mas a fase dos desafios está a terminar. Agora, as dez equipas com mais pontos (isto é, com mais desafios feitos e bem classificados) vão ser seleccionadas para uma formação em ODM e sobre como organizar uma campanha de divulgação destes objectivos. Da campanha vencedora sairá a melhor equipa, ou seja, aquela que ganhará uma viagem de 15 dias a um país africano de língua oficial portuguesa. "Essa experiência, que entendemos como uma experiência de educação para o desenvolvimento, será, esperamos, transformadora", motiva Sara Dias.

Mas se estes jovens estão motivados e já saíram do sofá, o mesmo não se pode dizer de alguns governos. Do nosso, por exemplo. "Portugal não tem cumprido o seu compromisso, como muitos outros países também não têm" na cooperação com os países em desenvolvimento, nota Sara Dias. Em 2009, Portugal investiu apenas 0,23% do seu rendimento nacional bruto em ajuda ao desenvolvimento. O compromisso assumido foi o de investir 0,7% até 2015. Outros países, como a Bélgica, a Holanda e a Inglaterra, dão um exemplo mais positivo, acrescenta Sara Dias.

Quando a última concorrente sobe ao palco do MIP, deixa a mensagem: os ODM são para ser cumpridos por esta geração.


Exemplos de activismo

Cordão humano
Os alunos da escola de Miraflores, que participou na iniciativa ‘Make It Possible', fizeram um cordão humano naquela zona de Oeiras e planeiam fazer outro para cobrir a distância entre Lisboa e Algés. Um cordão humano também foi uma das formas de chamar a atenção usada pela equipa ‘YesWeCan', no ‘Campus Challenge', numa praça central de Bragança.

Estrela em Bragança
"Este desafio consistiu em juntar o maior número de mulheres possível e, de uma forma criativa, divulgar os ODM", conta Cátia Cavaco. A euipa ‘YesWeCan, de Bragança, conseguiu "juntar 28 mulheres" neste objectivo comum, com a ajuda de uma associação local e uma professora de ‘step'. O cordão construiu uma "estrela humana" e "o resultado final foi fantástico", segundo a equipa.

‘Flash mob' em Lisboa
A equipa do ‘Campus Challenge Ricochete' juntou-se no Cais do Sodré numa ‘flash mob' - um grupo de pessoas que se concentram subitamente num ponto da cidade e fazem qualquer coisa. A acção foi "ler os oito objectivos do milénio", diz Maria João Dornelas, um dos membros da equipa. Outra ideia que tiveram foi "espalhar ‘post its' com frases sobre a justiça social por Lisboa".

Divulgar os ODM
Uma noite de contos numa residência universitária lisboeta. Uma "invasão" de um bar de Bragança. Todas as acções se destinam a divulgar os Objectivos do Milénio e contribuir para o seu cumprimento. Desde cartazes coloridos a fotografias em sítios diferentes da Europa, desde aulas diferentes, dadas por voluntários estrangeiros, a blogues, tudo conta para fazer passar a mensagem.