Maria Cláudia Monteiro, in Jornal de Notícias
Os sindicatos da Função Pública mostram-se "apreensivos e preocupados" com a hipótese dos subsídios de férias e de Natal dos funcionários públicos serem pagos em títulos de tesouro, medida que está a ser ponderada pela "troika" que negoceia a ajuda externa ao país.
Funcionários público em risco de perder dinheiro
"Se há menos dinheiro, toda a sociedade sofrerá, tal como será a Economia a sofrer", disse ao JN o coordenador do Sindicato dos Quadros Técnicos do Estado, Bettencourt Picanço.
"É uma medida errada, já que diminuirá o rendimento disponível dos portugueses e não estimulará a Economia", disse Paulo Taborda, dirigente da Federação Nacional dos Sindicatos da Função Pública.
"E não só não se estimula a Economia, como se reduz o rendimento disponível das pessoas para poderem consumir", precisou Paulo Taborda, lembrando que o problema de Portugal não é só "orçamental, mas também económico".
Bettencout Picanço considera, ainda, a medida que estará na agenda do FMI pouco exequível, já que os subsídios em causa "não são mais do que remunerações" que o legislador decidiu concentrar em dois subsídios. "Representaria, na realidade, um corte nos salários", explicou ao JN.
"Portugal é um país de baixo salários e o dinheiro dos subsídios servem para compor o rendimento e para que as famílias façam muitas vezes face a despesas mais avultadas", lembrou, também Paulo Taborda, lamentando o facto de em estudo estar, uma vez mais, medidas que penalizam os trabalhadores, em detrimento da actividade financeira.
Segundo escreve o "Diário Económico", os técnicos da "troika' que negoceia o pacote de ajuda a Portugal admitem avançar com medidas mais duras do que o inicialmente previsto. FMI, Fundo Europeu de Estabilização Financeira (FEEF) e Comissão Europeia estarão a ponderar a imposição do pagamento dos subsídios de férias e de Natal dos funcionários públicos em títulos do Tesouro.
Esta foi, de resto, uma das medidas adoptadas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), em 1983, data da última intervenção do FMI em Portugal, que optou pelo pagamento do subsídio de Natal em certificados de aforro.
Ainda de acordo com o jornal económico, a troika de negociadores justifica a adopção de medidas mais austeras devido ao facto de o Governo ter sobrestimando "o impacto das medidas de austeridade previstas no PEC IV".