Por Rita Siza, in Público on-line
Os membros da comunidade cigana de Gyongyospata, na Hungria, foram forçados a abandonar as suas casas durante o fim-de-semana para evitar confrontos com um grupo de "vigilantes" de extrema-direita que provocatoriamente organizou um "campo de treinos paramilitares" naquela aldeia.
A Cruz Vermelha da Hungria confirmou ter transportado 277 residentes para fora da aldeia. "Temos boas razões para ter medo. Nos últimos dois meses, Gyongyospata transformou-se num campo de batalha", disse à Associated Press o presidente do conselho Roma local, Janos Farkas. "Organizar jogos de guerra em plena época de Páscoa não lembra a ninguém", criticou.
As mulheres, idosos e crianças debandaram, mas os homens ficaram para trás para defender as suas propriedades. O transporte foi organizado pela Cruz Vermelha à semelhança de uma operação humanitária. "A comunidade pediu a nossa ajuda. Essa é a nossa missão", observou o director da organização, Erik Selymes.
O Governo, criticado pelo seu laxismo perante a proliferação de grupos de extrema-direita, destacou um impressionante dispositivo de segurança para a aldeia: mais de 100 de agentes, com equipamento antimotim, e apoiados por viaturas blindadas.
Ao mesmo tempo, um porta-voz, Zoltan Kovacs, desdramatizou os receios expressos pela comunidade cigana, considerando que "a situação não justificava uma ordem de evacuação obrigatória". O responsável frisou que nova legislação, aprovada na véspera, conferia maiores poderes à polícia e guarda nacional para actuar contra grupos paramilitares.
Sete membros da milícia Verdero (ou Força de Defesa), incluindo o seu "comandante", Tamas Eszes, foram detidos antes do início do campo de treino - ao ser transportado pela polícia, Ezses, envergando um uniforme camuflado com um antigo emblema militar alemão, botas de tropa e uma boina vermelha, deu ordem aos seus seguidores para prosseguir com as actividades planeadas.
"Só queremos promover o exercício físico e manter a tradição húngara de treino físico ao estilo militar", disse o líder da milícia, numa entrevista telefónica antes da detenção.
Ezses rejeitou acusações de racismo e extremismo, precisou que o seu grupo é "patriótico" e não "nacionalista" e garantiu que nada o move contra os Roma, apesar de enfatizar que a "criminalidade cigana é um problema sério que não pode ser escondido". "Mas esse não é o nosso problema", ressalvou.