in Diário de Notícias da Madeira
O FMI está aí. A rima é pobre, mas está à altura das circunstâncias, do país e dos políticos que temos.
O que se prevê para os próximos meses e, infelizmente, para os próximos anos, é dramático. A austeridade escreve-se agora com outras letras que não as dos famigerados PEC, mas os resultados não serão melhores. Mais precariedade, mais desemprego, mais pobreza. A certeza de que nos veremos gregos e de que nunca seremos alemães.
Por tudo isto, é difícil não questionarmos as razões que nos trouxeram a este ponto do não retorno. Elas estão aí e são claras e duras. Provavelmente tivemos mais olhos que barriga, vivemos todos acima daquelas que eram as nossas reais capacidades. Endividou-se o país, envidou-se o povo e não se criou mais nada para além dos juros e dos pecados que agora todos temos de pagar.
Mas este 'mea culpa' colectivo tem, por muito que se queira esconder, responsáveis directos mais próximos. Para o bem ou para o mal, esta responsabilidade cai, de forma mais intensa, nos políticos que têm governado o país. É culpa de José Sócrates e de Teixeira dos Santos, sem dúvida e sem perdão. Mas não só. O país não nasceu com a última governação socialista. Nasceu muito antes e, nos últimos tempos, viveu na bipolarização que divide o poder, há vários anos, entre socialistas e social-democratas. A bem da verdade, é bom que se diga que nenhum deles foi capaz de transformar a governação em algo mais profundo e mais duradouro do que a simples gestão momentânea do que existia. Quando se teve dinheiro, gastou-se sem olhar a meios nem a fins; quando o dinheiro era escasso, pediu-se sacrifícios aos mesmos de sempre e chamou-se a ajuda externa.
Infelizmente para nós, a história é cíclica e alicerçada na incapacidade crónica de não se aprender com os erros, passados ou presentes. E, mais dramática ainda, é a noção de que pouco se vai alterar desta vez.
Se dúvidas houvesse, bastaria olhar com atenção para a realidade política e para o comportamento daqueles que a compõem. O FMI está aí e eles perdem-se em discussões estéries sobre supostos encontros entre poder e oposição. Não para discutir o que importa, mas para saber se o encontro foi pessoalmente ou por telefone.
O assunto é pobre como a rima 'o FMI está aí'. No entanto, existem sinais mais profundos da crónica incapacidade da classe política em aprender uma forma maior de nos orientar os passos e o futuro. Veja-se os congressos realizados em pleno reinado do Fundo Monetário Internacional. Alguém vislumbrou uma ideia? Vá lá, uma pálida esperança, uma pequena centelha de originalidade, um diminuto rasgo de inovação? Não, não se viu, não se vislumbrou, não se sentiu, porque, simplesmente, não existiu
A agenda dos políticos continua a não ser o país, mas os interesses próprios, por muito obscuros e incompreensíveis que sejam. Com Portugal à beira do abismo, preferiram endeusar líderes que se esgotaram, lembrar glórias passadas e falar em desígnios futuros nos quais ninguém acredita, nem eles próprios. A rima e a prosa da classe dirigente é pobre e sem imaginação. infelizmente...