in Dinheiro Vivo
A Europa, e a zona euro, deviam falar a uma só voz, mas a verdade é que cada país tem expectativas diferentes sobre os resultados que poderão sair da cimeira extraordinária de Bruxelas. Se a crise é indisfarçável, como sair dela já tem diversas interpretações. Saiba o que pensam os principais países interessados no sucesso desta reunião
Alemanha. Angela Merkel já disse não esperar resultados “espectaculares” da cimeira extraordinária. Contrária à emissão dos eurobonds, a Alemanha insiste nas políticas de austeridade para fazer aprovar um novo pacote de ajuda à Grécia e vai tentar fazer vingar a proposta de envolver os privados no resgate.
França. Em sintonia com os alemães, Nicolas Sarkozy também insiste na participação dos privados no resgate à Grécia. François Baroin, ministro das finanças gaulês, diz-se esperançado de que a cimeira vai enviar uma “mensagem forte” aos mercados e recusa a reestruturação da dívida grega. “Isso seria dar uma vitória aos especuladores”, diz Baroin.
Grécia. A precisar de dinheiro como de pão para a boca, os helénicos são os principais interessados em que esta cimeira produza resultados que se vejam. Atolada num défice monstruoso, Atenas espera ansiosamente que o encontro de Bruxelas seja definitivo para a aprovação de um segundo resgate financeiro ao país. Como diz o primeiro-ministro Georges Papandreou, “este é o momento do tudo ou nada para a Europa”.
Portugal. Como um dos países que está dependente da ajuda financeira internacional, Portugal tem todo o interesse em que desta cimeira saia, também, um alívio dos juros a pagar pelo empréstimo de 78 mil milhões de euros negociado com a troika internacional. Paulo Portas, ministro dos Negócios Estrangeiros, já disse esperar que do encontro saia “uma solução robusta e europeia que dê confiança na zona euro”. Até porque pode ser o próprio projecto político europeu a ficar em causa.
Espanha. Com os juros a subir de dia para dia e a aproximarem-se perigosamente da barreira psicológica dos sete por cento, a Espanha espera ver-se livre do efeito de contágio que a crise grega pode vir a ter na quarta maior economia da zona euro. A ministra das finanças espanhola, Elena Salgado, já veio defender que o Fundo Europeu de Estabilização Financeira deve poder ir ao mercado comprar dívida grega e recusa a participação dos privados.
Itália. É a terceira maior economia da zona euro e também está sob a mira dos mercados financeiros. Grande demais para se deixar cair e desmesuradamente grande para ser salva, a economia italiana está sujeita a um draconiano programa de austeridade para evitar ser contagiada pela crise da dívida soberana. O primeiro-ministro Sílvio Berlusconi já veio dizer que se vive um momento de “ameaça à unidade da Europa e à moeda única”. Daí que a Itália tenha todo o interesse que o problema grego fique definitivamente resolvido.
Irlanda. À semelhança do que aconteceu com Portugal, também a Irlanda viu as agências de notação baixarem o rating do país para lixo (junk). Já há muito sobre a «protecção» de um plano de ajuda internacional, a Irlanda quer voltar aos mercados já no próximo ano, mas a crise grega pode frustrar os planos. Daí que a Irlanda também não seja adepta do envolvimento dos privados no resgate a Atenas.
Holanda e Finlândia. Dois dos países mais bem cotados junto das agências de rating, são também os mais críticos da actual situação. Exigem medidas de austeridades nos países em crise para entrarem nos resgates financeiros e vão defender a Bruxelas a participação dos privados. A ministra das finanças finlandesa, Jutta Urpilainen, já veio mesmo dizer que quer “limitar as responsabilidades” do seu país e sugere mesmo como contrapartida uma fatia nas privatizações previstas para os Estados em crise.