por José Pedro Frazão, in RR
Maria de Belém Roseira, acredita que, em parte, Paulo Macedo foi vítima de vários factores na crise das urgências e ataca a titular das Finanças. Em entrevista à Renascença, a antiga ministra da Saúde rejeita urgências sustentadas por empresas de trabalho temporário.
A antiga ministra da Saúde, Maria de Belém Roseira, acredita que, em parte, Paulo Macedo foi vítima de vários factores na crise das urgências e ataca a titular das Finanças. Em entrevista à Renascença, rejeita urgências sustentadas por empresas de trabalho temporário.
A pobreza que atinge muitos portugueses ajudou a agravar o caos das urgências. A tese é de Maria de Belém Roseira, para quem a "coincidência com um pico de gripe, sem vacinas tão eficazes, com maior e mais grave incidência" cruzou-se com a grave crise social e económica, quadro que não foi previsto pelo ministro da Saúde.
"O ministro da Saúde foi vitima do que foi a dureza dos fenómenos de pobreza e privação severa, que são um escândalo. E pode não ter avaliado o impacto que esses fenómenos trariam à exigência sobre o sector da saúde. Porventura, não foi capaz [de convencer] ou a ministra das Finanças não foi 'convencível' de que a saúde não pode ser tratada como outros elementos da administração pública", defende a militante socialista, em entrevista à Edição da Noite, da Renascença.
A deputada do PS considera que seria indispensável preservar a saúde dos cortes orçamentais. " Quando [o Governo] introduz uma ruptura em termos de políticas de recursos humanos, cortando completamente a remuneração e a progressão nas carreiras e em termos de enquadramento dos mais velhos e experimentados face aos mais novos, acaba por introduzir disfunções no sistema, que se repercutem na forma de atendimento", argumenta a antiga ministra da Saúde, sublinhando a incapacidade de muitos portugueses para seguir uma medicação e a inexistência de uma rede familiar que acolha os mais velhos, por impacto de uma emigração maciça nos últimos anos.
Maria de Belém lamenta a saída de clínicos experientes de muitos hospitais: "Desapareceram os médicos de serviço, aqueles que pela sua maturidade profissional são os que mais segurança dão e menos despesa fazem. Ou se arranja uma forma de reativar essas pessoas ou vai demorar muitos anos a recompor essas equipas".
A ex-presidente do PS vai mais longe na avaliação dos impactos desta política de recursos humanos: "Não podemos ter serviços de urgência sustentados por empresas de 'man power'. É isso que está a acontecer. É errado. É uma prática muito recente, a nível dos serviços de saúde. Em saúde, actua-se em equipa. Se aparecem pessoas que estão completamente fora da filosofia institucional e do conhecimento dos seus colegas de trabalho, o atendimento é mais difícil e o risco é acrescido, como é evidente".