4.3.15

Pobreza continua a crescer: só a Cáritas apoiou 160 mil pessoas em 2014

Rita Carvalho, in Sol

Todos os dias há novas pessoas novas a bater à porta da Cáritas a pedir ajuda para pagar a renda, as contas da casa ou a alimentação. Apesar de as estatísticas nacionais indicarem uma redução da taxa de desemprego e uma retoma da economia, esta situação ainda não se reflecte numa melhoria da condição de vida das pessoas, admite ao SOL o presidente da Cáritas. Só no ano passado, as delegações da organização espalhadas pelo País atenderam 21.549 novas situações de pobreza, um aumento de 15,4% face a 2013.

No total, foram 160 mil atendimentos sociais, numa média de 440 por mês. O número de famílias apoiadas também aumentou, passando de 52.967 em 2013, para 63.059 em 2014, o que significou uma subida de 19% (mais 10.092 famílias). Os dados relativos ao ano passado especificam que os baixos rendimentos, as dívidas com água, gás e alimentação representaram 35% dos atendimentos feitos pelos técnicos. Já o desemprego, o emprego clandestino, o trabalho precário e os salários baixos ou em atraso totalizaram 23%.

Nove por cento das pessoas que contactaram as Cáritas pediram ajuda para resolver problemas com a habitação (casa degradada, sobrelotação, custo excessivo da habitação, rendas amortizações em atraso, sem abrigo) e 8% para apoiar problemas ligados à escola (analfabetismo, baixa escolaridade, abandono ou insucesso escolar). Os dados adiantam ainda que 7% dos atendimentos foram para apoiar questões de saúde (doença, deficiência, alcoolismo, toxicodependência) e 4% para ajudar pessoas com problemas de auto-estima, dificuldades de relacionamento, entre outros problemas, a adquirirem competências pessoais.

Já há muitos desempregados de longa duração apenas com 40 anos e que dificilmente regressarão ao mercado de trabalho.

Eugénio Fonseca, presidente da Cáritas Portuguesa, disse ao SOL que estes dados mostram que as dificuldades dos portugueses continuam e a que muitos dos que caíram em situação de pobreza devido ao desemprego estão agora numa situação crónica, da qual dificilmente sairão. “Há muitas pessoas com 40, 45 anos, que são já desempregados de longa duração e que dificilmente recuperarão o posto de trabalho”, afirmou o responsável, acrescentando que não se tratam apenas de pessoas com baixas qualificações mas “também licenciados que já não estão em condições de competir com pessoas mais novas”. A criação do seu próprio posto de trabalho tem sido uma saída para algumas pessoas, mas “no total de milhares de desempregado, isto representa uma gota num oceano”.

Para o representante da Cáritas, este é um problema muito grave e que “dificilmente Portugal conseguirá ultrapassar sozinho pois não há Estado Social que pague isto”. Estas pessoas estão agora sem subsídio de desemprego, têm ainda muitos anos até à reforma, e pedem apoio para as despesas mais elementares, como a renda ou as contas da luz e água.

Eugénio Fonseca diz ainda que os endividamentos continuam a agravar-se e que muitas famílias não conseguem pagar a renda ou o crédito à habitação, perdendo o direito à casa e sendo obrigadas a abrigar-se em casa de familiares e amigos. “Crescem as tensões, os conflitos e aumentam os casos de violência doméstica, como se tem vindo a verificar”.