13.4.15

Henrique vai para a escola a pé desde que vive em Lisboa

por Inês Banha, in Diário de Noticias

Capital perdeu 288 mil habitantes em 32 anos. Para inverter a tendência, o novo autarca prometeu rendas acessíveis. Mas há quem não espere e já tenha optado por Lisboa.

Quando, no início da semana, Filipa Veiga foi pôr o carro a arranjar em Odivelas e regressou de metro a Lisboa, não conseguiu deixar de pensar que seria "incapaz" de voltar a cumprir diariamente o percurso que, até há quatro anos, fazia todos os dias na companhia do filho mais velho. Eram os tempos em que Henrique, hoje com 12 anos e que já na altura frequentava uma escola da capital, pedia para ficar a brincar no jardim e a mãe lhe respondia que não podia, porque estava na hora de regressarem de transportes públicos e de automóvel a casa, na Ramada. Era lá que os pais da lisboeta os esperavam, muitas vezes já depois de terem ido buscar os netos mais novos, gémeos, ao berçário.

A rotina durou um ano, até que a trabalhadora na área da cultura então regressada de Inglaterra decidiu mudar-se para a capital... e fugir à regra. Entre 1981 e 1991, Lisboa perdeu quase 145 mil habitantes e, nas duas décadas seguintes, outros 115 mil, segundo as últimas quatro edições dos censos. Os dados mais recentes são do Pordata e mostram que, de 2011 a 2013, houve mais 27 mil pessoas a deixar a capital.

Ao todo, a cidade passou, em 32 anos, de 807 937 residentes para 520 549. Feitas as contas, são menos 287 388 moradores num período em que a população da área metropolitana não parou de aumentar e em que os presidentes do município de Lisboa estabeleceram sempre como prioridade o repovoamento da capital. Na semana passada, Fernando Medina prometeu, no seu discurso de tomada de posse, o lançamento, até ao final de um mandato, de um "vasto programa de habitação a renda acessível, que permita, numa primeira fase, que cinco mil famílias da classe média possam voltar a morar na cidade por uma renda abaixo do salário mínimo nacional [505 euros]".