22.10.15

Uma loja de rua para pessoas carenciadas em que não há dinheiro, só boa-vontade

Cláudia Carvalho Silva, In Público

The Street Store vai realizar-se pela primeira vez em Portugal, trazida pelas mãos de uma estudante de 22 anos. O evento acontecerá em quatro cidades ao mesmo tempo.

É uma loja de rua onde a necessidade é a moeda de troca de quem lá vai. The Street Store, um conceito que surgiu na África do Sul, é uma loja que pretende dar aos sem-abrigo e às pessoas carenciadas a possibilidade de ‘comprarem’ e escolherem roupa com toda a dignidade. O evento vai decorrer sábado, em simultâneo em quatro cidades portuguesas: Lisboa, Porto, Coimbra e Braga, das 9h às 19h. “Há muita gente que precisa da nossa ajuda”, refere a mentora do projecto em Portugal, Mafalda Lobato.

Esta iniciativa dá às pessoas carenciadas “uma opção de escolha, similar ao que acontece nas lojas”, diz André Rebelo, responsável pela iniciativa na cidade de Braga. Mafalda Lobato explica como funciona a Street Store: As pessoas chegam, é feita uma triagem daquelas que precisam de ajuda das que estão ali só por curiosidade. Depois, aqueles que realmente necessitam carenciadas poderão andar pela loja e escolher as suas próprias roupas, sendo que podem levar até 10 peças. “As peças estarão dispostas em cabides e mesas e a Junta do Areeiro disponibilizou-nos tendas já que se prevê que chova”, refere a estudante, acrescentando que pretendem expor tudo aquilo que foi doado. Haverá mantas, calças, casacos, produtos de higiene, sapatos, livros, roupa de bebé, vestidos e tentarão dar preferência à roupa de inverno. Para além disto, em Lisboa, haverá também serviços complementares de cabeleireiro, sendo que pretendem ter serviços de saúde nas próximas edições e nas outras cidades. Estes serviços complementares são uma novidade em relação às edições da The Street Store no estrangeiro. A Comunidade Vida e Paz, em Lisboa, juntou-se à causa e ajuda em questões de logística, sendo que até vão distribuir panfletos na quinta e na sexta-feira com informações sobre o evento.

The Street Store foi fundada em Janeiro de 2014, na África do Sul, em colaboração com a Associação Napier Haven Haven Night Shelter. Como consideraram que a questão dos sem-abrigo não é um problema unicamente sul-africano, decidiram partilhá-lo com o mundo e já se realizaram mais de 300 lojas de rua por países como as Honduras, o Brasil, o Canadá, Israel, Austrália, EUA, Noruega e Índia, entre outros, aos quais se junta agora Portugal. Em Maio, Mafalda Lobato, estudante de Medicina Veterinária de 22 anos, viu um vídeo da The Street Store e decidiu aplicar o conceito em Portugal, mais motivada ainda por não ter obtido resposta de instituições de solidariedade nas quais queria fazer voluntariado. “Entrei nisto sozinha”, refere a estudante, mas conta agora com uma equipa fixa e espera conseguir “aumentar a rede”. “Inicialmente o projecto era só para sem-abrigos mas decidimos abri-lo a todas as pessoas carenciadas”, refere, explicando que haverá roupas de bebé e criança e até artigos para animais.

Mafalda Lobato afirma que em Lisboa já têm mais de 40 voluntários dispostos a participar no evento de sábado; as candidaturas foram feitas online e também houve quem falasse com ela de modo a poder integrar o projecto. “Estamos todos a começar do zero, nenhum de nós participou em actividades do género anteriormente”, afirma a organizadora do evento no Porto, Cátia Brandão. Os voluntários da cidade de Mafra juntar-se-ão ao evento em Lisboa, já que um projecto na cidade, apesar de ter sido combinado, acabaria por não compensar, revela Paula Mendes, responsável pelas doações em Mafra. “Seria um evento com pouca adesão por parte dos sem-abrigo, não por parte das ofertas”, refere, explicando que todas as doações foram encaminhadas para Lisboa.

Esta é a primeira edição da The Street Store em Portugal, mas a organização espera poder replicá-la no futuro. “Tencionamos repetir a actividade no primeiro trimestre de 2016 e aumentar esta rede de voluntariado”, refere Mafalda Lobato, observando que gostariam de criar uma base de dados de modo a poderem falar directamente com as pessoas carenciadas e entregar em mão aquilo de que precisam. Paula Mendes, de Mafra, sublinha a necessidade de serem criados “núcleos específicos como um gabinete de comunicação e uma área de logística”, de modo a facilitar o contacto com as entidades ou a informação com os meios de comunicação social. “Somos só pessoas que têm boa vontade mas que também têm outras ocupações e têm de conseguir conciliar tudo”, acrescenta.

Esta iniciativa de voluntariado decorrerá em simultâneo em quatro cidades portuguesas mas esperam conseguir alargar a sua área de intervenção nas próximas edições. Em Lisboa, a Street Store estará na Praça de Londres, no Porto na Praça da Alegria, em Coimbra no Largo do Romal e em Braga na Praça Conde Agrolongo, em frente à Igreja Pópulo.