Bárbara Baldaia, In TSF
A meio do mandato na Câmara, o autarca foi à "Ilha das Comadres" com a TSF. As "ilhas" são núcleos de pequenas casas, normalmente com poucas condições. No Porto, há cerca de mil. Com a procura crescente de habitação social, Moreira quer reabilitar estes espaços para esse fim.
"Olha, eu vou desligar que estou aqui a falar com o senhor presidente, 'tá bem?". Maria Irene despacha a pessoa que está do lado de lá da linha. Já conhece Rui Moreira. Não é a primeira vez que ele vem a esta ilha. "É a ilha das comadres", diz Maria Irene entre risos, no número 212 da Travessa da Póvoa, no centro do Porto. Manuel Pizarro, vereador da habitação e da acção social, acompanha o presidente da Câmara nesta visita.
Nesta ilha, agora já há saneamento. Intervenção recente da câmara, que quer fazer pequenas obras de reabilitação nas outras ilhas. Rui Moreira está a meio do mandato. Há dois anos que é presidente. "Isto é um trabalho para uma geração e não para um mandato. É preciso revalorizarmos um património que parecia ser um património a demolir", sublinha.
Numa altura em que está a aumentar o número de casas desabitadas em ilhas e, ao mesmo tempo, a aumentar o número de pedidos de habitação social, a autarquia define uma nova estratégia: "Na Domus Social, temos neste momento 700 pedidos por satisfazer de habitação social. Se conseguirmos encontrar modelos nas ilhas e se pensarmos que temos um fundo de solidariedade social que ajuda a pagar as rendas às pessoas, podemos encontrar aqui um modelo alternativo de habitação social que complemente os bairros sociais tradicionais", explica o presidente.
Por isso, Rui Moreira espera no futuro canalizar para as ilhas pedidos de habitação social. Entretanto, a Câmara está a desenvolver intervenções em parceria com as juntas, a Domus e as Águas do Porto.
"Estamos a falar em propriedade privada, em rendas de 2,5 euros, de 5 euros, em que os senhorios não têm possibilidade de fazer investimento e em que os moradores admitem que os senhorios não podem pagar", faz notar o autarca. Maria Irene secunda-o: "Pago 5euro por mês, também não posso pedir muito". Vai ela própria dando um jeito. No exíguo espaço de que faz casa, é rigorosa na limpeza e na decoração. Cá fora, no pátio da ilha, tem um chuveiro e uma retrete. Já está habituada a vir cá fora, "há um ror de anos". A decorar o espaço mínimo, há uma flor de plástico amarela polvilhada de brilhantes. "Tem que ser", diz ela, "as coisas têm que estar limpas e arranjadinhas".
"O condomínio fechado dos pobres"
Rosalina Mota, 87 anos, também se orgulha de ter tudo num brinquinho: "Ainda me lavo, ainda ponho tudo como deve ser". Aponta para uma cadeira. "Ali debaixo é o meu quarto de banho de noite, mas pode ver que não cheira mal. É casa de pobres, mas há limpeza".
Limpeza e camaradagem. É isso que os faz não querer sair da ilha. Vivem aqui quase desde sempre. Casaram-se aqui. Querem continuar aqui. "O meu filho morou aqui, saiu queria que eu fosse com eles, mas estou habituada aqui, gosto muito disto aqui. A vizinhança é boa, a gente tem muita limpeza e se não tem começa logo a mandar vir umas com as outras", diz Maria Irene.
"Esta é a ilha das comadres, porque as pessoas se dão todas bem, sentem segurança, pelo facto de ter um portão. Não pode ser apenas a burguesia a ter os condomínios fechados, as pessoas também têm direito a tê-los". É "o condomínio fechado dos pobres", admite Rui Moreira, e "é preciso tratar deles".