15.12.15

Há seis escolas onde os alunos progridem muito mais do que os do resto do país

Andreia Sanches, in Público on-line

Três privadas e três públicas fazem algo raro e difícil: todos os anos, os seus alunos evoluem mais do que a média. Acontece em locais que não costumam estar no topo dos rankings tradicionais: Póvoa de Lanhoso, Caminha, Ponte da Barca.

Umas escolas “puxam os seus alunos para cima”, ou seja, fazem-nos progredir muito mais do que a média. Outras escolas fazem o contrário: deixam que os seus alunos sejam bastante ultrapassados. Um novo indicador fornecido pela Ministério da Educação (ME) distingue quem fez o quê com os seus estudantes.

Já se dará mais detalhes sobre este modo de analisar o desempenho dos estabelecimentos de ensino – um modo que vai além dos rankings tradicionais e que permite analisar o desempenho de cada escola desde 2011. Para já, resultados desta avaliação: apenas seis secundárias estiveram sistematicamente, nos últimos anos, no “top 25” das que apresentam maiores progressões, simultaneamente nos exames de Português e de Matemática. São as que têm os alunos que mais evoluem entre o 9.º e o 12.º ano, em comparação com a média dos alunos do resto do país.

Três delas são públicas: Secundária da Póvoa de Lanhoso; Básica e Secundária Sidónio Pais, em Caminha; e Básica e Secundária de Ponte da Barca. E três são privadas: Colégio São Tomás, em Lisboa; Colégio Valsassina, também em Lisboa; e Colégio de Nossa Senhora do Rosário, no Porto.

Entre 2011 e 2015, estas seis escolas (que representam cerca de 1% das 576 secundárias públicas e privadas para as quais existe este tipo de dados) não se limitaram a conseguir que os seus alunos “crescessem”, em termos de desempenho nos exames finais de Português e de Matemática. Elas conseguiram que eles evoluíssem muitíssimo mais do que a média — “puxaram-nos sempre para cima” para usar uma expressão de João Baptista, subdirector da Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência, quando, no início do ano, apresentava aos jornalistas o novo indicador. E fizeram-no não num ano, nem em dois, mas em cada um de todos os anos em análise, sem excepção. É isso que as distingue.

No extremo oposto, estão as escolas cujos alunos evoluíram sempre muito menos, entre o 9.º e o 12.º, quando comparados com a média dos outros alunos do país. Em todos os anos analisados, elas registam os 25% piores níveis de progressão, simultaneamente a Português e a Matemática. São três, todas públicas: Escola Básica e Secundária José Falcão, em Miranda do Corvo; Escola Secundária Madeira Torres, em Torres Vedras; e Escola Secundária Daniel Faria, Baltar, em Paredes.

“É claro que um aluno, em geral, saberá mais no 12.º ano do que sabia no 9.º, portanto não piora em termos de conhecimentos”, como explicou o ME em resposta ao PÚBLICO quando este indicador foi lançado. E acrescentava: “O que acontece é que os seus colegas progrediram mais do que ele, em média, e portanto ele foi ‘ultrapassado’ por muitos.”

O investigador Joaquim Azevedo resume assim o que está em causa: “Há escolas que acrescentam valor aos seus alunos e escolas que depreciam o seu valor (entre a entrada na escola num dado ciclo e o fim desse ciclo).”

Como funciona?
Tem um nome grande: chama-se “Indicador da progressão dos resultados dos alunos entre os exames do 9.º ano e do 12.º ano, quando comparados com os outros alunos do país”.

Este indicador – um dos vários que o ME fornece este ano, pela primeira vez, aos órgãos de comunicação social – permite comparar os resultados que os alunos de cada escola obtiveram nos exames nacionais de Português e de Matemática do 12.º ano com os resultados que os mesmos alunos haviam obtido, três anos antes, nos exames finais do 9.º ano das mesmas disciplinas.

Veja Indicador de Progressão escola a escola

Por exemplo: se um aluno faz os exames no 9.º ano, e fica abaixo da média nacional, mas, quando chega ao 12.º, consegue resultados nos exames acima da média do país, então teve uma “progressão relativa positiva”. A escola “puxou esse aluno para cima”, nas palavras dos estatísticos do ME. Já um aluno que, no 9.º ano, estava muito acima da média mas que chega ao 12.º ano e está abaixo, ou só ligeiramente acima da média, teve uma “progressão relativa negativa”.

O indicador tem algumas imperfeições: uma escola que chumbe muitos alunos, por exemplo, no 8.º ano, pode chegar ao 9.º e apresentar uma boa média – e logo um bom nível de progressão –, porque os alunos mais fracos não fizeram exame, ficaram pelo caminho.

Mas também tem vantagens: uma importante é que tem em consideração o nível académico dos alunos que a escola recebe, o qual não é tido em conta quando apenas se olha para os resultados absolutos das notas dos exames (com base nos quais se fazem os rankings tradicionais). Explica o ME numa nota metodológica sobre este indicador: “Uma escola secundária que receba alunos com resultados académicos baixos pode, não obstante, ter um indicador de progressão elevado, desde que no 12.º ano esses mesmos alunos estejam melhor do que estavam no 9.º ano, relativamente à média nacional.”

O ministério distribui os estabelecimentos de ensino por três categorias: os que apresentam um indicador de progressão que está entre os 25% mais altos do país; os que têm uma progressão abaixo da média e apresentam um indicador que está entre os 25% mais baixos do país; e os que estão em linha com a média.

Escolas que ficam menos bem na fotografia no ranking tradicional, que compara apenas as notas dos alunos nos exames finais, conseguem destacar-se nesta avaliação — porque, precisamente, o que está em causa é avaliar a evolução dos alunos face à média. Entre as seis escolas que “puxam sempre para cima”, tanto se encontra o Colégio Nossa Senhora do Rosário, que no ranking tradicional está em 1.º lugar, como escolas que se saem pior, caso da Escola Secundária da Póvoa de Lanhoso, que no ranking tradicional está em 207.º.

Há escolas que conseguem bons progressos a Português e menos bons a Matemática, e vice-versa, havendo mesmo várias em que os alunos evoluem sempre numa disciplina, mas não na outra. No secundário, 43 escolas (7,5% do total) conseguiram todos os anos estar no top das 25% maiores progressões a Matemática (30 públicas e 13 privadas). E 26 (4,5%) conseguiram o mesmo a Português (19 públicas e 7 privadas).

Outras nunca conseguem sair da linha vermelha da baixa progressão: há 31 que estão sempre entre as que têm progressões mais baixas a Português e 36 que estão a deixar os seus alunos serem ultrapassados a Matemática.

E no básico?
O ME calculou também o indicador de progressão para o ensino básico — a metodologia é semelhante, ainda que neste caso haja menos dados para análise (no secundário é possível avaliar o desempenho das escolas desde 2011, com sucessivas “vagas” de alunos, já no básico só há dados para a “vaga” de alunos que fez exames este ano: os seus resultados são comparados com os obtidos por eles três anos antes, quando acabaram o 6.º).

Assim, houve 104 escolas, num universo de 1156 para as quais este tipo de análise é feita, onde os alunos tiveram, tanto a Português como a Matemática, uma progressão muito inferior à média nacional (aliás, que estiveram mesmo entre as 25% com progressões mais baixas do país). Do lado oposto, estão 88 escolas – 7,6% do total – que progrediram francamente mais do que a média (estão entre os 25% indicadores de progressão mais altos, tanto a Português como a Matemática).

No 2.º ciclo, 116 (11%) das 1074 escolas para as quais há dados estão no “top 25” das maiores progressões simultaneamente nas duas disciplinas, entre o 4.º e o 6.º ano. E 102 (9,4%) estão no grupo das progressões mais baixas.