18.7.16

Desempregados também são gente

Diogo Agostinho, in Expresso

Na vida, para lá dos sonhos excêntricos, o que mais se ouve e deseja é saúde. É a saúde que nos permite encarar a vida e lutar pelos nossos sonhos. Não tenho dúvidas que nos perdemos e desgastamos com questões muitas vezes triviais, quando somos abençoados por um estado de saúde bom.

No entanto, olhando para a nossa sociedade actual, retirando o aspecto da saúde, o emprego ou melhor a falta dele é um sério flagelo.

Já foram analisados e esmiuçados os números do desemprego, que atingiram um valor elevado, em pleno período de ajustamento.

O nosso país é composto na sua totalidade por mulheres, homens, crianças, velhos, pessoas de meia idade, empregados e desempregados, reformados e empresários. Todos contam e todos são necessários.

Vem isto a propósito da medida, que está a ser preparada, de eliminar a obrigatoriedade de quem está desempregado se apresentar de 15 em 15 dias.

Concordo inteiramente. E não é por vir subscrita pelo Bloco de Esquerda que me tem de fazer especial confusão, ou que não deixo de a apoiar.

Uma pessoa que se encontre sem emprego, e é curioso que nos últimos tempos, a procura de emprego aumentou, já passa por uma situação de desmotivação natural. Quem não está a ser útil, quem não encontra um local onde possa contribuir com o seu conhecimento, com o seu know how acumulado, ou com a força do seu trabalho, está, naturalmente, desmotivado e na ânsia de regressar ao mundo laboral e assim reforçar a sua integração na sociedade.

Ora, perante este cenário, será que o mais correcto é obrigar pessoas a apresentarem-se, qual termo de identidade e residência, quinzenalmente, perante a Segurança Social ou, muitas vezes, as Juntas de Freguesia, onde vão fazer prova de que estão vivos, mostrar um papel, receber um carimbo e adeusinho até daqui a duas semanas?

Obviamente que as questões de rigor na utilização dos recursos públicos, mormente a monitorização da concessão de apoios sociais deve estar presente. Compreendo a preocupação do Governo, em manter critérios de acompanhamento das pessoas que estão a receber apoios, mas a necessidade de encontrar formas de dizer “estou vivo e continuo activamente à procura de emprego”, sobretudo, numa fase em que as tecnologias o poderiam fazer de forma menos burocrática, deve ser pensada. Não podemos querer ser um país tecnológico, onde se fazem apostas na modernização, na inovação, na simplificação e no empreendedorismo, e depois não nos preocuparmos ou focarmos na aplicação da tecnologia ao serviço da melhoria do bem-estar das pessoas e da sua valorização.

Não tenhamos dúvidas, esta é uma questão de elementar dignidade. Obrigar alguém que não encontra emprego a uma apresentação quinzenal é, no mínimo, velicar a dignidade dessa pessoa. Cada caso é um caso. Sim, porém também existem os free riders do sistema, os que querem receber com pouco ou nenhum esforço, mas esses não são a larga maioria das portuguesas e portugueses que, procuram trabalho, que enviam CVs, que querem ser úteis e prestáveis e perante a crise que vivemos, com uma economia que tarda a arrancar e a criar emprego para quem dele precisa, com o passar do tempo vêm a sua esperança a definhar.

Não devem deixar de existir as sessões de procura de emprego acompanhada, nem mesmo as sessões colectivas de carácter informativo e programas de apoio disponibilizados pelo Instituto do Emprego e Formação Profissional. A formação contínua, a aposta no desenvolvimento de competências devem manter-se.

Todavia este pequeno passo é muito importante. Passamos o tempo a suspirar pela reforma do Estado, pela desburocratização, por isso é bom começarmos por quem mais precisa, sempre cuidando da dignidade da pessoa humana.