in TSF
Agência europeia para os direitos fundamentais pede aos governos auditorias da diversidade nos locais de trabalho e campanhas de recrutamento para o setor público junto da população negra.
Um estudo europeu conclui que a população de origem africana que vive em Portugal tende a ser mais pobre, ter piores empregos e a viver com mais frequência em casas sobrelotadas ou degradadas. Uma tendência que se nota na comparação com o resto da população nacional, mas também com outros negros da União Europeia.
O jornalista Nuno Guedes dá conta da situação dos negros que vivem em Portugal, em comparação com o resto da União Europeia
A investigação revela que 38% das pessoas com descendência africana a viver em Portugal têm muita dificuldade em pagar as contas, o segundo valor mais elevado dos 12 países analisados e mais do dobro do que acontece na população portuguesa em geral (17%).
Outro dado: 50% dos negros em Portugal têm empregos nas chamadas áreas manuais, que normalmente envolvem esforço físico, a segunda percentagem mais alta na comparação com outros países e o dobro da média europeia.
Cerca de 46% da população nacional de origem africana também vive em casas sobrelotadas (na população geral o número fica pelos 10%) e 21% em habitações com sinais evidentes de degradação (a média nacional, para todos, é de 5%).
Portugal é dos países com menos relatos de racismo
O estudo "Ser negro na União Europeia", publicado pela Agência para os Direitos Fundamentais, traça, no geral, um cenário muito negativo da população de origem africana no velho continente: "A população negra na União Europeia (UE) enfrenta dificuldades inaceitáveis em coisas tão simples como encontrar um sítio para viver ou um emprego digno devido à cor da sua pele. O assédio racial continua a ser uma ocorrência quotidiana. Ser negro na UE é frequentemente sinónimo de racismo, más condições de habitação e maus empregos".
Se no capítulo das condições sociais e económicas Portugal fica mal na fotografia, na discriminação racial os números são mais positivos na comparação com outros países.
Na União Europeia cerca de 30% dos negros dizem ter sido vítimas de assédio racial nos últimos cinco anos, com Portugal a ser dos países onde estes relatos são menos comuns (23%).
Portugal é ainda o país com menos relatos de violência racista nos últimos cinco anos (2%). No entanto, os casos de familiares ou amigos insultados por causa da sua origem étnica, no último ano, são bem mais comuns (26%, mais que os 20% da média europeia).
Finalmente, o estudo também revela que 36% dos negros parados em operações STOP no último ano pela polícia, em Portugal, sentem que tal aconteceu por causa da sua cor da pele, um número inferior aos 44% da média da europeia.
Campanhas de recrutamento para a população negra
O estudo da Agência para os Direitos Fundamentais faz uma série de recomendações aos governos europeus para diminuírem a discriminação contra quem tem pele negra. Entre estas estão uma aposta na melhoria da qualidade da habitação onde a população negra vive, mas também "formular medidas específicas para combater a discriminação como auditorias da diversidade nos locais de trabalho e campanhas de recrutamento para o setor público junto da população negra".