in DN
Chama-se 'Call Me To Play', é patrocinado pelo estado e oferece serviços sexuais. Mas também ensina os profissionais do sexo a protegerem-se da violência, do tráfico e das doenças. Nasceu a era da prostituição segura
A página de entrada do Call Me to Play
Há Lauriane, "jovem estudante doce e sensual", que aluga o corpo em Montreaux. Apresenta-se numa foto sem rosto mas mostrando o peito, explica todos os serviços que oferece e todos eles envolvem proteção com preservativo. Quando se abre a página do 'Call Me to Play', um site suíço de acompanhantes, há fotos de outras raparigas como Lauriane.
Louise promete teoria de carícias em Genebra, Angélique assegura momentos ternos em Lausanne, Myre diz-se aberta a todas as propostas em Valais. Não resta grande margem para dúvidas: este é um site de prostituição.
Uma barra apresenta as ofertas: há homens, há casais, há transexuais, há uma coluna BDSM. Mas então porque é que o governo suíço decidiu financiar o 'Call Me To Play', que abriu no início deste mês, em 80 mil euros?
Proteger os direitos de quem aluga o corpo
É um site gratuito de anúncios sexuais, sim, mas a grande diferença é que o foco está na segurança física e psicológica dos trabalhadores sexuais. A ideia é prevenir a violência, o tráfico humano e as doenças sexualmente transmissíveis no contexto da prostituição.
Para isso, o 'Call Me to Play' tem essencialmente duas ferramentas. Há um forum onde os clientes podem avaliar os escorts, e onde lhes é pedido que indiquem se assistiram a algum comportamento de risco. O mesmo para quem se prostitui: podem avaliar clientes e alertar para riscos que tenham corrido.
E depois há uma série de serviços de aconselhamento. O que fazer quando rompe o preservativo. Como responder se o cliente tem uma emergência médica durante o ato sexual. Como escapar e denunciar situações de violência e abuso. A quem se dirigir se desconfiar de uma potencial vítima de tráfico ou escravatura.
De trabalhadores do sexo para trabalhadores do sexo
O 'Call Me To Play' nasceu no último dia de outubro, mas é um projeto com dois anos. Foi criado por duas associações de defesa das direitos das prostitutas, a Fleur de Pavé e a Aspasie. É, além do mais, apoiado pela Associação Suíça de Luta Contra a Sida.
O site funciona em cinco línguas - francês, inglês, espanhol, húngaro e romeno. Isso também serve para que os profissionais do sexo, que no país são maioritariamente oriundos dos países do Leste, tenham acesso à legislação sobre direitos e condições de trabalho.
A prostituição é legal na Suíça desde 1942. Está autorizada em casas particulares e nalgumas ruas identificadas das cidades. Isto significa que, no país dos Alpes, os trabalhadores do sexo fazem descontos, têm direito a seguro de saúde e aposentação.