Ana Marques Maia, in Público on-line
Um rapaz brinca com uma bola enquanto uma jovem estudante de uma escola secundária na Faixa de Gaza, Wessal Abu Amra, 17, regressa a casa. Amra adora passear por Gaza com os amigos, fazer compras e comer fast food. "Temos coisas que se parecem com as de marcas famosas, mas não é a mesma coisa", disse. "Apesar dos confrontos e da má economia, tentamos sempre encontrar alguma alegria. Temos consciência do lugar onde vivemos, por isso temos de fazer coisas de que gostamos para superar o mau humor."
Localizada entre Israel e o Egipto, a Faixa de Gaza alberga cerca de dois milhões de palestinianos, que vivem num lugar "inabitável", em situação de pobreza. Tudo o que entra e sai de Gaza é decidido pelo Governo de Israel, que vigia e condiciona os movimentos da população e a entrada de bens no território palestiniano. Cerca de 52% dos habitantes de Gaza encontram-se em situação de desemprego: este é o território com a taxa de desemprego mais alta do mundo. O fenómeno é particularmente grave entre as mulheres palestinianas, que, além das dificuldades sentidas por todos (e por elas, particularmente), são também vítimas de um tipo de discriminação particular que tem por base a natureza da via profissional que decidem abraçar para fazer face à crise.
A jovem palestiniana Sahar Yaghi, de 28 anos, é organizadora de eventos, nomadamente de casamentos, um ofício visto, por muitos, como “inadequado” à sua condição feminina. Por vezes, quando chega tarde a casa – contingência do tipo de trabalho que realiza – ouve, da parte dos vizinhos, comentários “impróprios”. “Odeio alguns dos comentários”, desabafa, em entrevista à agência Reuters. “Mas adoro o meu trabalho e espero um dia criar o meu próprio negócio.” Sahar espera tornar-se, em breve, “a primeira mulher empreendedora na área da organização de eventos” de Gaza.
Nada Rudwan, de 27 anos, licenciou-se na área do marketing digital. “Foi muito difícil encontrar trabalho na minha área”, conta à Reuters. “Pensei, por isso, em fazer algo que gostasse e fosse rentável ao mesmo tempo.” Foi, surpreendentemente, no YouTube que encontrou a resposta para o seu problema. Nada Kitchen, o seu canal de receitas de cozinha, foi recentemente comprado por empresas sauditas. Interpreta a sua iniciativa como uma “tentativa de quebra do bloqueio físico à Faixa de Gaza”. Uma ligação à Internet, uma câmara de vídeo e algum talento culinário abriram uma janela para o mundo que tornou possível a superação do cerco iraelita. A sua irmã Lama, de 22 anos, licenciada em média digitais, faz agora parte da equipa. “É difícil econtrar um emprego que permita suprir todas as tuas necessidades”, disse à Reuters.
Com apenas 23 anos, logo após a saída da faculdade, Sara Abu Taqea encontrou emprego temporário na ala de obstetrícia de um hospital de Gaza. Considera ter tido sorte, apesar de o contrato não garantir mais de seis meses de vínculo. Muitos dos seus colegas saltaram da faculdade directamente para o desemprego. A pobreza é um denominador comum entre empregados e desempregados. “Acho que temos sorte em viver junto ao mar”, observa. “A praia é o local ideal para procurar algum alívio, meditar, esquecer a guerra e a pobreza.” Suad Dawood, de 24 anos, não poderia estar mais de acordo. A Reuters encontrou-a enquanto montava a cavalo na praia. Suad detém um diploma na área da saúde, mas há quatro anos que busca, sem sucesso, um emprego. “Quando me sinto exasperada, venho para a praia com os meus amigos.”