Ana Marques Maia, in Público on-line
Com apenas quatro anos, Keegan já pedia aos pais para usar vestidos. Sente-se mais “na sua própria pele” quando o faz, diz-lhes. O menino, hoje com nove anos, frequenta o terceiro ano numa escola em Austin, no Texas, e considera-se “de género criativo”. Quando crescer, como já revelou na sala de aulas, gostava de ser drag queen.
As manifestações de género não-binário de Keegan não assustam os pais, que consideram a identidade de género “uma construção cultural”; por esse motivo, permitem que Keegan se expresse livremente, sem quaisquer constrangimentos. "É importante que Keegan possa ser quem deseja ser", explicou a mãe da criança, Megan, à agência Reuters. Considera vital que o filho se sinta aceite em casa e fora dela. Megan e Chris, ambos sobreviventes de tentativas de suicídio, estão cientes de que, segundo dados da organização não-governamental The Trevor Project, 39% dos jovens americanos LGBTQ (lésbicas, gays, bissexuais, transgénero e queer) com idades entre os 13 e os 24 anos “consideraram seriamente cometer suicídio” nos últimos 12 meses — e que, para jovens transgénero e de género não-binário, este número atinge mesmo os 50%.
Foi com surpresa que constataram que a escola que o filho frequenta, que a Reuters diz situar-se numa área geográfica particularmente conservadora de Austin, apoia a livre expressão de Keegan e se esforça por conter qualquer manifestação de repúdio por parte dos colegas do jovem aluno. “Uma vitória”, consideram pais e professores, uma vez que, no passado, o menino já tinha sido vítima de bullying por usar maquilhagem, perucas e vestidos em contexto escolar.
No universo do transformismo, Keegan é Kween-Kee-Kee, personagem que tem sido desenvolvida sob a orientação de Robby, drag queen de 25 anos. Além de ter participado no Festival de Drag Queens do Texas, em 2018, Keegan é hoje um performer remunerado, e a sua conta de Instagram reúne mais de 2.700 seguidores. Um ano após tê-la aberto, com a supervisão dos seus pais – e com a colaboração de um fotógrafo profissional – Keegan assumiu a sua homossexualidade. “Foi bom sentir que o meu filho retirou esse peso dos ombros”, confessou a mãe, Megan, à Reuters.
Roby, contratado pelos pais da criança, tenta passar uma mensagem de confiança. “Transmitir a uma criança de nove anos que o sucesso se define quando insistimos em sermos quem somos, quando crescermos fiéis a nós mesmos e quando praticamos o bem”, disse à Reuters. O drag queen acredita que a sua presença terá efeitos positivos na vida de Keegan. “Enquanto homossexuais, podemos escolher a nossa família e acho que eu estou a ganhar isso mesmo, uma família. No fim do dia, é isso mesmo que importa, não é? Criar uma mudança positiva para um menino que talvez não soubesse que ser como é é uma opção.”