29.1.20

Da Amazónia a Lesbos. O jovem médico que já percorreu o mundo como voluntário

Isabel Pacheco, in RR

Foram muitos os locais onde já esteve em missão. À Renascença, Tomás Bandeira diz que a “indiferença” é aquilo que mais o choca. E recorda como a realidade que encontrou num campo de refugiados na Argélia o inspirou para escrever o seu primeiro romance.

Desde os 18 anos que Tomás Bandeira percorre o mundo em missões. Hoje, aos 26 anos, é médico de profissão. E mais do que voluntariado, diz que escolheu a “responsabilidade” como “opção de vida”.
México ou a ilha grega de Lesbos são alguns dos lugares por onde passou o jovem de Braga que se diz “chocado” com a indiferença do mundo.
“Se pudesse dizer o que me apoquenta mais, seria a indiferença da sociedade em que vivemos. Naturalmente que a migração e os refugiados não são uma situação do século XXI. É muito mais antiga e está associada à própria natureza humana. Mas vivemos num mundo global em que as notícias chegam com muita facilidade e, hoje em dia, temos a responsabilidade de pensar que há quem nasceu num lugar tão hostil como um acampamento de refugiados”, lembra.

Foi em Moçambique, em 2012, que Tomás deu início à viagem que já o levou à Amazónia, a Togo e à Argélia – onde conheceu a realidade dos refugiados de Tindouf e que serviu de inspiração para o seu primeiro romance: Zahra.
“É uma narrativa na primeira pessoa de uma mulher que nasce nesse acampamento de refugiados de saharauís, no sudoeste da Argélia. No desenrolar desta narrativa vou contando a voz deste povo que vive há 45 anos nestes acampamentos e permanentemente no dilema entre a frustração no dia de amanhã ser igual ao dia de hoje e, ao mesmo tempo, na esperança de poder voltar ao país e à sua cultura”, explica.
Aos 26 anos, Tomás Bandeira apenas tem uma certeza: é que qualquer um pode e deve fazer a diferença.

“Quanto mais conheço, percebo que não conheço. E quanto mais faço, mais percebo que mais há por fazer. Cada vez mais sinto a responsabilidade de utilizar o que aprendi em lugares onde faz tanta falta. Mas não precisamos de ser médicos para fazer a diferença. Qualquer que seja a nossa profissão, o mais difícil é termos consciência que aquilo que fazemos pode fazer a diferença para muita gente”, garante.
A viver e a trabalhar na Suíça, Tomás Bandeira promete continuar a sua viagem pelo mundo e ir, sem destino ou itinerário certo, até onde for mais preciso.