Por Maria João Guimarães, in Jornal Público
Relatório britânico defende controlos parentais nos telemóveis, vídeos com poses sexuais admitidos apenas depois das 21h e a possibilidade de bloquear sites pró-bulimia ou anorexia
Uma legislação que ninguém quer
As imagens hipersexualizadas estão por todo o lado e as crianças estão expostas a elas cada vez mais cedo, com os pais a terem cada vez menos oportunidade de controlar o que os seus filhos vêem, afirmou ontem um relatório britânico, defendendo o controlo dos meios de comunicação.
O documento, citado nos media britânicos, diz que o controlo é fundamental para evitar esta sobreexposição que, assegura, tem efeitos na aceitação das mulheres como submissas e dos homens como dominadores: estereótipos que, diz o documento citado pela BBC, contribuem para a atmosfera de pressão que leva cada vez mais jovens a pôr fotografias em que estão nuas ou em topless nos sites de redes sociais.
O relatório faz parte da estratégia do Governo de Gordon Brown na luta contra a violência contra as mulheres e conclui que a exposição aos conteúdos mais sexualizados tem uma ligação com o aumento deste tipo de agressões.
O documento foi divulgado depois de, na semana passada, os conservadores de David Cameron terem anunciado uma iniciativa contra a sexualização de crianças, penalizando empresas culpadas de "práticas de marketing irresponsáveis" dirigidas aos mais jovens para evitar que estes sejam "bombardeados" por conteúdos mais sexualizados, lembra a agência Reuters.
David Cameron recorreu a um exemplo de sua casa, dizendo que proibiu que a filha de seis anos ouça Lily Allen, uma cantora com língua solta em relação ao consumo de álcool e ao sexo nas suas músicas. A filha de Cameron está obcecada com Lily Allen, que o líder conservador descreve como "ligeiramente inapropriada". Uma discussão entre pai e filha sobre o assunto acabou com um iPod partido, revelou Cameron.
A cantora, que fala tanto de assuntos menos apropriados como de política, tinha expressado no ano passado o seu apoio ao Labour nas próximas eleições.
Com estas iniciativas, os dois partidos parecem competir por medidas sobre a exposição das crianças às imagens sexuais ou hipersexualizadas, que poderá ser um tema forte nas próximas eleições.
O ministro do Interior, Alan Johnson, afirmou ontem que "os pais estão preocupados com a pressão a que os seus filhos estão submetidos a partir de uma idade cada vez menor". Um estudo da Universidade de Cambridge divulgado esta semana parece confirmar que há consequências para os mais novos: metade das meninas de seis anos queria ter peso a menos.
Mais magras, mais populares
No inquérito, feito para um programa de televisão do Channel Four, as crianças tinham de escolher que tipo de corpo queriam ter a partir de várias imagens delas próprias, alteradas digitalmente: metade escolheu a imagem mais magra de todas, três tamanhos abaixo do seu. Muitas explicaram que seriam mais populares se fossem mais magras, relatou o diário The Telegraph.
Esta preocupação dos pais é partilhada pelo Governo, assegurou Johnson, adiantando que o Governo está empenhado em adoptar algumas medidas sugerias pelo relatório, da autoria da psicóloga Linda Papadopoulos, da London Metropolitan University.
A psicóloga defende que os telemóveis, através dos quais os adolescentes têm cada vez mais acesso a conteúdos pornográficos, sejam vendidos com controlos parentais activados e que vídeos de música "sexualizados" sejam proibidos antes das nove da noite.
Mais dirigido à questão da imagem corporal das raparigas, é proposto que fornecedores de acesso à Internet possam bloquear sites pró-anorexia ou pró-bulimia, e que seja criada uma escala aplicada em fotografias alteradas digitalmente para mostrar até que ponto foram modificadas.