15.4.11

Custo dos alimentos pode criar mais 10 milhões de pobres

por Helder Robalo, com AFP e REUTERS, in Diário de Notícias

Escalada do preço das matérias-primas pode pôr em causa crescimento das economias mundiais

A instabilidade na Líbia, Egipto e noutros países daquela região do globo, associada ao aumento do preço das matérias-primas, está a preocupar os líderes mundiais e em especial os dos países cujas economias são consideradas emergentes. Brasil, China, Índia, Rússia e África do Sul (BRICS) temem que a subida dos preços ameace o crescimento económico global.

De acordo com o último relatório Food Price Watch do Banco Mundial, os preços dos alimentos a nível mundial estão perto dos máximos de 2008, situando-se, em termos globais, 37% acima do valor de 2010. Recorde-se que em Dezembro, Janeiro e Fevereiro o índice de 55 matérias-primas alimentares, da Organização para a Agricultura e Alimentação (FAO) da ONU, subiu para máximos históricos (ver caixa ao lado).

Factos que segundo o presidente do Banco Mundial podem deixar milhões de pessoas em situação de pobreza. Se os preços aumentarem mais 10%, isso poderá levar a que haja mais 10 milhões de pessoas abaixo do limiar de pobreza extrema, fixado em 1,25 dólares por dia, enquanto uma subida de 30% levaria à pobreza mais 34 milhões de pessoas no mundo, disse Robert Zoellick.

Dados que estão a preocupar os líderes do Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Para estes países emergentes, "uma volatilidade excessiva dos preços das matérias-primas, em particular nas áreas de alimentação e energia, representam um novo risco para a manutenção da retoma do crescimento da economia mundial", defenderam os responsáveis, em comunicado.

Um dos problemas que têm contribuído para a escalada dos preços das matérias-primas prende-se com os conflitos no Norte, Oeste africano e Médio Oriente. Por isso, os responsáveis dos cinco países defendem que "o uso da força deve ser evitado", numa clara alusão à situação na Líbia. "Desejamos que os países afectados alcancem a paz, estabilidade, prosperidade e progresso", lê-se no texto.

Os cinco líderes prometeram apoiar "a reforma e a melhoria do sistema monetário internacional", até porque "a crise financeira mundial expôs a inadequação e as deficiências do sistema monetário e financeiro internacional". Além disso, as instituições financeiras internacionais como o FMI e o Banco Mundial "devem reflectir as mudanças na economia mundial e aumentar a voz e representação das economias emergentes e dos países em desenvolvimento", lê-se no documento.