6.4.11

Natacha, Joana, Nuno e Bruno são o rosto do sucesso do projeto "Novos bons alunos"

in Público on-line

Natacha, Joana, Nuno e Bruno não se interessavam pela escola e estudar era um sacrifício que se reflectia nas notas. Hoje, sabem estudar, percebem a importância da escola e sonham com um futuro. Resultado do projecto “Novos bons alunos”.

Os Empresários pela Inclusão Social (EPIS) trabalham desde 2007 junto de escolas no combate ao insucesso escolar (Fábio Teixeira)

O projecto é da autoria dos Empresários pela Inclusão Social (EPIS), que desde 2007 trabalham junto de escolas do país no combate ao insucesso escolar entre alunos do 3º ciclo do ensino básico (7º, 8º e 9º anos). A organização reúne-se na quarta-feira em Lisboa numa conferência sobre “Escolas de Futuro”.

Natacha Lima tem 15 anos, anda no 9º ano e teve contacto com o projecto “Novos bons alunos” enquanto estudava no 7º ano por causa das “negas”. A escola não lhe interessava e quando chegava a casa não tinha o hábito de rever a matéria dada naquele dia.

“Abandonar a escola eu nunca teria abandonado, mas passava sempre com dificuldade e assim a EPIS ajudou”, explicou à Lusa.

Ajuda materializada em mais do que acompanhamento escolar: “Falávamos de 15 em 15 dias [com a mediadora]. Combinávamos ao fim de semana eu ligar e contar como é que estava a correr a semana e se eu tivesse dificuldade nos trabalhos pedia ajuda”.

O caso de Joana Bernardo não é muito diferente. Com 17 anos frequenta o 8º ano num Curso de Educação e Formação (CEF) de Jovens, uma forma de concluir a escolaridade obrigatória. O objectivo agora é concluir o 9º ano “para ser alguém”, mas lembra-se de que, quando começou a ser acompanhada, não queria estar na escola e esteve em abandono.

“Eles recuperaram-me e fizeram-me voltar à escola”, revelou, lembrando que tinha preguiça em levantar-se cedo e que era uma aluna “problemática”.

Desde que começou a ser acompanhada pela professora Sara, a mediadora dos EPIS, as coisas passaram a ser diferentes.

“Fazia-me estudar uma hora por dia para não me aborrecer tanto. Se tinha algum problema em casa ou na escola falava com ela porque ela estava sempre disponível para me ajudar”, explicou Joana.

Os resultados estão à vista: “Eu costumava ser aluna de 3 e agora estou a chegar aos 4 e 5, mas é mesmo por causa da EPIS”.

Nuno Miguel, 18 anos e a frequentar 10º ano, é de menos palavras, mas lá foi admitindo que tinha dificuldades na escola e que tinha preguiça em estudar.

“Mudou a forma de encarar a escola, a forma de estudar, a maneira como vejo a escola e o futuro. Comecei a ter outra atitude na escola e a encará-la de um modo mais sério porque sei que isso é importante para ser alguém na vida”, revelou à Lusa.

Também Bruno Sousa, 18 anos e no 10º ano, tem noção das vantagens de ter sido um dos alunos acompanhados: “Podia estar na escola, mas se calhar passava mais por baixo da mesa, passava à rasquinha com a ajuda deste e daquele”.

O trabalho realizado envolve os alunos, a família e a escola e é feito através de um mediador, escolhido pela autarquia ou pelo Ministério da Educação, que trabalha directamente com os alunos para os motivar e ensinar métodos de estudo.

“A minha função é ajudar o aluno nos problemas que ele tiver na escola, fazer uma ligação com a família, com os professores e tentar resolver qualquer problema que impeça o sucesso do aluno”, explicou a mediadora Sara Pereira.

O ano de 2011 arranca com um total de 49 mediadores, espalhados por 50 escolas dos concelhos de Paredes, Matosinhos, Resende, Pampilhosa, Santarém, Amadora, Sesimbra e Setúbal, com uma carteira de cerca de 4.000 alunos.

Os números mostram o sucesso do projecto: nos 5.812 alunos acompanhados entre 2008 e 2009, a taxa de aprovação passou de 63 por cento em 2008 para 77 por cento, em 2009.

Destes 5.812 alunos, 3.404 foram acompanhados durante dois anos e a taxa de aprovação passou de 58 por cento em 2008, para 74 por cento em 2009 e 77 por cento em 2010.