in Jornal Público
O país atravessa uma grave crise alimentar, estando muitas zonas impedidas de receber ajuda internacional(Foto: Feisal Omar/Reuters)
A Somália premiou três crianças vencedoras de um concurso de recitação do Corão com armas, bombas e livros religiosos, que foram entregues por uma rádio local, comandada por um grupo Al-Shabab, com ligações à Al Qaeda.
A criança que ficou em primeiro lugar no concurso recebeu uma AK-47 e cerca de 500 euros. O segundo vencedor recebeu uma arma igual e um pouco menos de 400 euros e o terceiro classificado duas granadas e perto de 300 euros, adianta o jornal New York Times.
As crianças em causa tinham entre dez e 17 anos e durante a cerimónia o comandante do grupo Al-Shabab defendeu que “os jovens devem usar uma mão para a educação e com a outra segurar uma arma para defender o Islão”. A entrega dos prémios, que são distribuídos há três anos, aconteceu em Elasha Biyaha, a cerca de 20 quilómetros da capital do país.
A milícia islâmica Al-Shabab, que controla grande parte do sul e centro da Somália, abandonou recentemente a capital do país, Mogadíscio, onde o Governo está a ser apoiado pelas Nações Unidas.
Sem um Governo central efectivo, a Somália apresenta das mais baixas taxas de escolaridade de todo o mundo e enfrenta também uma grave crise alimentar. Num relatório divulgado recentemente, a agência da ONU que coordena a ajuda humanitária, a OCHA, sublinhou mesmo que a fome vai piorar no país e que o envio de alimentos deve, por isso, continuar.
“As zonas identificadas como de maior risco nos próximos seis meses são o Sul e o Centro da Somália, o Sul e o Leste da Etiópia e os campos de refugiados no Djibuti, Quénia e Etiópia”, dizia o documento divulgado no final de Julho. E acrescentava que na Somália - cujo Centro e Sul estão debaixo do controlo da al-Shabab - não existe esse momento de recuperação devido aos “elevadíssimos níveis de subnutrição, às péssimas condições para o pastoreio e às colheitas, que estão muito abaixo do considerado normal”.
O dramatismo que se vive na Somália - a al-Shabab não permite a entrada de ajuda humanitária nos territórios que controla - tem desviado os olhares dos outros países do Corno de África afectados pela fome.