22.9.11

Só um terço dos serviços hospitalares tem espaço próprio para doentes terminais

Por Catarina Gomes, in Jornal Público

Cancros já são responsáveis por uma proporção maior de mortes do que doenças cardiovasculares como os AVC, cuja mortalidade diminuiu 33,9% em oito anos.

A história é de uma senhora idosa que estava internada num hospital de Lisboa e era visitada pela filha no horário da visita. Tinha estado com ela de véspera e, à hora prevista, estava de volta à enfermaria, mas, desta vez, encontrou a cama da mãe vazia. Perguntou onde estava e houve alguém do serviço que lhe respondeu: "Acho que morreu hoje de manhã."

A senhora que morreu era tia da ex-alta-comissária para a Saúde, Maria do Céu Machado, a filha era uma prima. Foi este episódio que lhe deu vontade de saber como se lida com a morte nos hospitais portugueses. As respostas que recebeu de 38 serviços hospitalares, sobretudo localizados nas regiões de Lisboa e Vale do Tejo e Norte, fazem parte do livro A Morte e o Morrer em Portugal, em que é co-autora, e que hoje é lançado na livraria Almedina, em Lisboa.

Nos anos 1970, menos de 20% dos doentes morriam nos hospitais, em 2008 eram já 61,4%, uma subida de 13,3% face a 2000. Tendo em conta esta tendência, a médica quis saber qual é a estratégia dos vários serviços hospitalares face ao doente terminal. O questionário voluntário foi feito quando ainda era alta-comissária para a Saúde - os resultados são de Setembro do ano passado -e dão conta, por exemplo, da existência de apenas 36,8%, cerca de um terço dos serviços, com espaço/quarto isolado para doentes terminais poderem estar acompanhados pela família. A médica nota que não se está a falar de unidades de cuidados paliativos, mas de serviços de medicina, cirurgia e cuidados intensivos.