Por Catarina Gomes, in Jornal Público
Cancros já são responsáveis por uma proporção maior de mortes do que doenças cardiovasculares como os AVC, cuja mortalidade diminuiu 33,9% em oito anos.
A história é de uma senhora idosa que estava internada num hospital de Lisboa e era visitada pela filha no horário da visita. Tinha estado com ela de véspera e, à hora prevista, estava de volta à enfermaria, mas, desta vez, encontrou a cama da mãe vazia. Perguntou onde estava e houve alguém do serviço que lhe respondeu: "Acho que morreu hoje de manhã."
A senhora que morreu era tia da ex-alta-comissária para a Saúde, Maria do Céu Machado, a filha era uma prima. Foi este episódio que lhe deu vontade de saber como se lida com a morte nos hospitais portugueses. As respostas que recebeu de 38 serviços hospitalares, sobretudo localizados nas regiões de Lisboa e Vale do Tejo e Norte, fazem parte do livro A Morte e o Morrer em Portugal, em que é co-autora, e que hoje é lançado na livraria Almedina, em Lisboa.
Nos anos 1970, menos de 20% dos doentes morriam nos hospitais, em 2008 eram já 61,4%, uma subida de 13,3% face a 2000. Tendo em conta esta tendência, a médica quis saber qual é a estratégia dos vários serviços hospitalares face ao doente terminal. O questionário voluntário foi feito quando ainda era alta-comissária para a Saúde - os resultados são de Setembro do ano passado -e dão conta, por exemplo, da existência de apenas 36,8%, cerca de um terço dos serviços, com espaço/quarto isolado para doentes terminais poderem estar acompanhados pela família. A médica nota que não se está a falar de unidades de cuidados paliativos, mas de serviços de medicina, cirurgia e cuidados intensivos.