Por Kathleen Gomes, em Nova Iorque, in Público on-line
Pedro Passos Coelho estreou-se este sábado no debate da Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova Iorque, com um discurso em que se referiu à crise nacional para garantir que Portugal está a cumprir as metas para consolidar as suas contas públicas. “Encaramos a crise como uma oportunidade para a adaptação do nosso modelo económico e para o fortalecimento da economia portuguesa”, disse.
O primeiro-ministro afirmou que “o Governo e o povo português estão a desenvolver esforços sem precedentes para cumprir o acordado com o Fundo Monetário Internacional e a UE”.
A referência à crise no seu discurso na reunião anual da Assembleia Geral da ONU é um sinal de que o Governo está preocupado com a imagem do país no exterior.
O ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas, que desenvolveu vários contactos bilaterais em Nova Iorque durante a última semana e que se deslocou ao Congresso americano, em Washington, para explicar as diferenças entre o caso português e a Grécia, encarou desde sempre a Assembleia Geral da ONU como uma oportunidade para melhorar a imagem externa de Portugal. Objectivo: assegurar que o país é um aluno cumpridor.
Apesar de os últimos relatórios demonstrarem que os aumentos fiscais estão a contrair a economia portuguesa, Passos Coelho disse na sede das Nações Unidas que “tal como é amplamente reconhecido”, Portugal está a “avançar rápida e decididamente na consolidação” das suas contas públicas e nas “reformas estruturais”.
Mas a crise portuguesa foi apenas um dos pontos do seu discurso, que abordou exaustivamente vários temas da agenda internacional, da Primavera Árabe ao programa nuclear iraniano (uma réplica a Ahmadinejad, que na quinta-feira dissera que os Estados Unidos têm 21 bases militares em Portugal). Como um aluno – o bom aluno, de novo – que dá provas de que estudou a matéria.
Falando no último dia do debate geral reservado aos chefes de Estado, Passos Coelho reafirmou que Portugal apoia a posição do Quarteto para o Médio Oriente: o reconhecimento do Estado palestiniano “deve ser o resultado e a consequência lógica” de negociações directas entre a Autoridade Palestiniana (AP) e Israel. “Até lá”, disse, Portugal está disponível para apoiar “um estatuto reforçado da Palestina nas Nações Unidas”. Isto é, não se opõe a que a Palestina procure ser admitida na ONU como Estado observador não-membro, o que a AP considera fazer caso o Conselho de Segurança não aprove o seu pedido de reconhecimento como membro pleno. O primeiro-ministro português discursou no dia seguinte à entrega do pedido formal da Palestina nas Nações Unidas e aos discursos climácticos dos líderes palestiniano e israelita na Assembleia Geral.
Tal como o seu antecessor socialista, José Sócrates, no ano passado, Passos Coelho defendeu o alargamento dos membros permanentes do Conselho de Segurança ao Brasil, Índia e África.
Apelou ainda a “uma tomada de posição do Conselho de Segurança” em relação ao regime sírio e anunciou a candidatura de Portugal a membro do Conselho dos Direitos Humanos da ONU para 2015.