Texto de Tatiana Serrão, in Público on-line (P3)
Ao que parece não valorizamos a formação dos nossos jovens. Então valorizamos o quê? Esperamos o quê para este nosso país? E sobretudo, onde vamos parar?
Indignação é talvez a palavra que melhor descreve o que estou a sentir neste momento, embora não me pareça suficiente. Porque indignação pressupõe injustiça, mas não basta, eu tenho vontade de soltar um grito de revolta, de mudança, um grito que nos faça acordar desta dormência e menosprezo pelos outros.
O desemprego, como todos sabem, é um crescendo em Portugal, e ser-se licenciado como é o meu caso, não é garantia de absolutamente nada. Até aqui nada de novo, mas hoje percebi que, muitas vezes, ter um curso atrapalha muito mais do que ajuda. Percebi que, ter habilitações a mais, ou lá o que quer que isso signifique, é um entrave quando se tenta arranjar um emprego. Percebi que há um longo caminho a percorrer para mudar a maneira de pensar, percebi também que, lutar para ficar em Portugal, é isso mesmo, uma luta; percebi que mostrar o que temos para dar ao nosso país, requer muita persistência e paciência.
Frustração, sim essa palavra também sublinha o que senti quando fui excluída por ter habilitações a mais, ou seja, por ser uma pessoa com competências que poderiam representar uma mais-valia, e que deveriam ser positivamente consideradas no momento da contratação? Valências que deveriam abrir-me portas, criar oportunidades? Pois talvez, mas isso numa perspectiva muito optimista, que não corresponde à actualidade.
Francamente, já tinha ouvido falar deste fenómeno, e entenda-se como um acontecimento raro ou extraordinário, mas nunca tinha acontecido comigo. Esperava pois, que me dissessem que não tinha o perfil adequado, ou as habilitações pretendidas, ou pouca experiência enfim, qualquer coisa que me parecesse menos absurdo, do que dizer a alguém que está acima do pretendido. Então e o que é suposto fazer? Devo omitir informação do meu currículo? Mas, e se por acaso, essa informação for necessária para "O tal emprego"?!
Discriminação
Não andamos, permanentemente, a trabalhar para criar um portfólio rico, e capaz de mostrar o que realmente sabemos fazer? Para quê? São estas as perguntas que acredito, que assaltam muitos de nós jovens-licenciados-desempregados, mesmo que não queiramos, mesmo que no minuto a seguir se dissipem. Esta sim, discriminação, parece-me a palavra adequada. Porque discriminar é muito mais do que distinguir alguém pela raça ou credo ou ideologia política. Discriminar é excluir tudo o que é diferente e que desconhecemos, discriminar é sempre uma forma de preconceito e de injustiça. Discriminar é a maneira mais fácil e mais redutora de lidar com tudo aquilo que não somos capazes.
E são estas incoerências a que estamos sujeitos todos os dias, e para as quais precisamos de uma dose de fé, diria eu inabalável, para aguentar e seguir em frente conscientes de que estamos no caminho certo. Eu acredito, por principio, acredito sempre que vale a pena mais, vale a pena lutar, vale a pena não parar nunca, vale a pena...