Pedro Araújo, Jornal de Notícias
Mário Centeno, do grupo de estudos de políticas económicas do PS, avança ao JN ideias para o futuro, do subsídio de desemprego ao salário mínimo.
"O subsídio de desemprego é demasiado elitista. Chega apenas a um terço daqueles que não têm trabalho e tem uma duração que não se adapta ao ciclo económico. Devia ser mais longo em época de crise, como aconteceu nos EUA, sendo mais curto e generoso em tempos de prosperidade". A ideia é defendida por Mário Centeno, em declarações ao JN. Ele é um dos estrategas de políticas económicas que estão já a assessorar António Costa na pretendida ascensão do PS à chefia do Governo.
São 11 os conselheiros da liderança do PS em termos de políticas económicas. O grupo funciona há pouco mais de um mês e estará em estreita ligação com o gabinete de estudos, criado na última quinta-feira, durante uma reunião da Comissão Política. O coordenador do grupo de estudos de políticas económicas é, precisamente, Mário Centeno, um alto quadro do Banco de Portugal. É professor no ISEG e tem um doutoramento em Economia do Trabalho, obtido na Universidade Harvard, nos EUA.
Embora se conheçam escritos seus sobre várias áreas, o mercado laboral é o seu terreno preferido, tanto assim que escreveu um livro "O trabalho. Uma visão de mercado", editado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos. É para essa obra que remete várias das ideias que expressou em declarações ao JN, preferindo não comprometer o PS.
As políticas fiscais e estruturais têm de estar sintonizada, não devendo as primeiras puxar em determinado sentido e as segundas noutro. Exemplos não faltam. "O salário mínimo deve ser aumentado? Essa questão tem de ser vista no contexto de outras políticas. Uma coisa é certa: as empresas não gostam de baixar salários e desincentivar os trabalhadores. Aliás, os salários na sociedade portuguesa já contêm um prémio de risco, uma vez que são baixos e garantem, simultaneamente, segurança no posto de trabalho [trabalhadores do quadro]. A escolha é simples: temos de parar de proteger o emprego para proteger o rendimento. Se conseguirmos criar novas relações laborais, o sistema torna-se mais flexível". Ou seja, para que os salários aumentem, é necessário tornar mais flexível o mercado laboral. No Estado, "a requalificação deve ser alargada, mas não pode ser estigmatizada".