3.2.15

Violência doméstica. A homenagem das câmaras

in iOnline

Quatro municípios aceitaram o desafio do i de dar o nome de uma vítima de violência doméstica a uma rua, como forma de homenagem a todas as vítimas de um crime que se repete de norte a sul do país. Da escolha da rua ao envolvimento das associações que trabalham nesta área, autarquias dão os primeiros passos para concretizar a iniciativa

Braga está a fazer o levantamento das ruas disponíveis

Em 2014, Braga registou uma vítima mortal por violência doméstica e duas tentativas de homicídio. Fazendo as contas desde 2004, foram 14 as mulheres mortas por maridos ou namorados. Será uma delas a dar nome a uma rua em Braga. A autarquia está agora em contacto com a APAV para que sejam fornecidos os dados sobre as vítimas, e pedidas as devidas autorizações à família. Também já foi solicitada à divisão de toponímia da cidade a lista de ruas ainda sem nome. “Por questões burocráticas, será mais fácil atribuir o nome a um espaço novo do que mudar o nome actual de uma rua”, explicou ao i Firmino Marques, responsável pelas políticas sociais da câmara de Braga. Entretanto, a cidade vai inaugurar um edifício que vai servir de apoio à reintegração na sociedade de vítimas de violência doméstica.

“A câmara de Braga felicita o i por esta iniciativa. A violência doméstica é um flagelo social que importa erradicar. Além das diversas acções que a autarquia tem levado a cabo, não podemos deixar de nos associar a outras iniciativas – como é o caso desta homenagem”
Ricardo Rio
Presidente da câmara de Braga

Amadora. Um acto simbólico para avançar rapidamente

Prevenir, intervir junto dos agressores, atender e acompanhar as vítimas de violência doméstica: estes são os principais eixos do plano municipal da Amadora contra um crime que, no ano passado, causou uma vítima no concelho, além do registo de duas tentativas de homicídio. Para já, os serviços sociais da autarquia estão a recolher os dados para a homenagem a que Carla Tavares, presidente da edilidade, se associou. O município está também a verificar se há, neste momento, alguma rua disponível para que seja criado um novo topónimo na cidade – uma homenagem simbólica para avançar “o mais rápido possível”, de acordo com fonte oficial da câmara, e que a Amadora pretende juntar ao trabalho efectivo, no terreno, de combate a um fenómeno que o município reconhece como “complexo”.

“O município da Amadora está sensível ao fenómeno crescente da violência doméstica e tem procurado uma intervenção de proximidade com as vítimas. Contudo, por considerar que este apoio, por si só, não diminui este flagelo, estamos empenhados num trabalho de prevenção”
Carla Tavares
Presidente da Câmara da Amadora

Viseu. Envolver as associações que trabalham no terreno

Em Viseu, a câmara iniciou contactos com associações locais que trabalham, no terreno, na prevenção e combate à violência doméstica. O objectivo passa por envolver estas associações na iniciativa, escolhendo em conjunto o nome que irá homenagear, na toponímia da cidade, todas as vítimas deste crime. Almeida Henriques, presidente da autarquia viseense, também já comunicou, em reunião do executivo camarário, a intenção de avançar com esta medida. Viseu será, aliás, já este mês, o palco do julgamento de um crime que, em Abril do ano passado, chocou o país. Depois de ter cortado a pulseira electrónica, Manuel Baltazar – ou Manuel “Palito”, como ficou conhecido – matou a tiro a mãe e a tia da ex-companheira, alvejando também a ex-mulher e a própria filha. O julgamento terá início a 10 de Fevereiro.

“Os testemunhos e os números de vítimas de violência doméstica são um retrato a negro da sociedade portuguesa. Em Viseu aderimos à ideia de homenagear as vítimas na toponímia de uma rua da cidade. Fazemo-lo no contexto de uma intervenção colectiva que nos comprometemos a aprofundar”
Almeida Henriques
Presidente da câmara de Viseu

Cascais disponível para homenagear todas as vítimas

Cascais podia servir de exemplo positivo para o país, tendo em conta que 2014 foi um ano sem mortes por violência doméstica, não havendo também registos em 2011 e 2012. A autarquia está a aguardar que o tribunal liberte o nome de uma vítima anterior a esse ano. Segundo os registos da polícia, em 2010, uma mulher foi morta a tiro pelo marido, que se suicidou de seguida. No entanto, o nome da vítima nunca foi divulgado. O município mostrou abertura para adoptar o caso de outra cidade portuguesa como seu, passando a homenagem do particular para o geral. Assim, em vez de a rua ter o nome de uma vítima em específico, passaria a homenagear “o nome de todas as mulheres vítimas de violência doméstica”, esclareceu fonte oficial da autarquia.

“Juntamente com os nossos parceiros, pusemos no terreno uma série de políticas de prevenção, apoio e sensibilização para que, em Cascais, o medo não tenha hipóteses. Para que, em Cascais, a dignidade vença. Para que, em Cascais, um dos mais cobardes dos crimes não tenha nunca mais lugar, em lugar nenhum”
Carlos Carreiras
Presidente da Câmara de Cascais