Leonor Paiva Watson, in Jornal de Notícias
Estudos revelam uma clara desvantagem em relação à população total
A taxa de pobreza para as mulheres portuguesas com 65 anos ou mais é de 24%. Nos homens, 19%. Para as famílias monoparentais - e 90% são encabeçadas por mulheres - é de 39%. A pobreza no feminino é preocupante e é o tema de Março neste ano Europeu.
Duas em cada quatro mulheres que encabeçam famílias monoparentais são pobres; enquanto que apenas um, em cada quatro homens, que encabeça esta tipo de família o é. "Um estudo longitudinal mostrará que a trajectória da pobreza no feminino sugere que as mulheres estão em clara desvantagem em relação à população total", afirma a economista Amélia Bastos.
Para agravar, a pobreza revela-se mais persistente precisamente entre as mulheres. Para dar outro exemplo, para as mulheres idosas e isoladas a taxa de saída da situação de pobreza é de 60% abaixo da taxa referente à população total; e a sua taxa de entrada mais do que duplica em relação também à população total. Que factores concorrem, afinal, para esta desigualdade de género? E por que é que isto ainda se verifica tanto até nas gerações mais novas?
"As mulheres têm, por exemplo, mais dificuldades de acesso ao mercado de trabalho. Uma mulher que tenha filhos pequenos ou que esteja grávida arranjará emprego com muita dificuldade. Está ainda muito mais sujeita ao trabalho precário, ao trabalho parcial que não é bem remunerado, a sérias dificuldades de progressão na carreira", avança Amélia Bastos.
Na base está uma mentalidade difícil de contornar. Ou seja, não é possível falar de pobreza no feminino sem perceber que as possibilidades de entrada no mercado de trabalho são muito determinadas pelos modelos de vida familiar. "Se à mulher cabe a grande parte das tarefas domésticas e do trabalho de cuidar, não será fácil a total disponibilidade laboral que tanto se exige. Ela vai ficando de fora", explica Heloísa Perista, do Centro de Estudos de Intervenção Social (Cesis).
Até há trinta anos, a mulher ficava em casa a tomar conta dos filhos. Estas são as senhoras que hoje, já idosas, dependem da pensão do marido e vivem com muito mais risco de pobreza. Entretanto, conquistou um lugar fora de portas, mas a mentalidade dominante continua a colocá-la sob responsabilidade primeira de tratar dos filhos e da casa, entendendo que o seu trabalho fora não tem que ser tão valorizado como o dos homens. Os factos são incontornáveis: as mulheres têm salários mais baixos do que os homens a desempenharem exactamente as mesmas tarefas.