Margarida Luzio, in Jornal de Notícias
Quando não tinha tempo, tinha vontade. Agora, tem tempo, falta-lhe a vontade. Para trabalhar na vinha, entenda--se. Mesmo assim é de volta das cepas e da horta que José Acácio Baltelhas, de 59 anos e residente em Chaves, gasta o tempo desde que, em Janeiro, entrou em situação de pré-reforma. Antes já estivera no fundo de desemprego 36 meses.
No entanto, não foi a vinha, nem tão-pouco a horta que levaram este funcionário dos escritórios da Auto-Viação do Tâmega a optar pela reforma antecipada. Foi o cansaço.
"Trinta e um anos de serviço é muita coisa! O meu cargo era de muita responsabilidade e a gente chega a um ponto que começa a ficar cansado. Os anos não perdoam!", justifica José Acácio, que, apesar da penalização que sofreu em termos da reforma, não se mostra nada arrependido da opção que tomou.
"Quando tomo uma decisão, nunca me arrependo. Se ficasse até ao fim, recebia mais algum, mas se calhar nem chegava lá. Assim, já estou cá fora a gozar", diz, lembrando que "não ter horários para cumprir tem muitas vantagens".
A par da horta e da vinha onde se entretém na aldeia da Pastoria, José Acácio gasta o tempo a ler. "Gosto bastante. Quando estava no emprego raramente lia. Nos jornais, só via as letras grandes e as figuras, agora leio livros. De religião e de política", assegura o pré-reformado, queixando-se dos programas da televisão:
"Só dão novelas e há poucos programas de cultura geral".