Por Aníbal Rodrigues, in Jornal de Notícias
Para o presidente da CCDRN, o adiamento da linha de alta velocidade é uma "dura decepção" e resulta de "ideias anacrónicas". Esta medida e as portagens na A28 são "dissabores"
O presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDRN), o socialista Carlos Lage, lamentou ontem o adiamento da construção da linha ferroviária de alta velocidade entre Porto e Vigo e a introdução de portagens na A28. A "paralisia da alta velocidade entre Porto e Vigo" é um "dissabor". "Foi e é uma das grandes apostas da euro-região que os altos e baixos da política - mas sobretudo as fraquezas da economia e das finanças públicas portugueses - comprometeram", afirmou o presidente da CCDRN, no Porto, durante o 9.º plenário da euro-região Galiza-Norte de Portugal. Carlos Lage cedeu, nesta sessão, o cargo de presidente da euro-região ao líder da Junta da Galiza, Alberto Nunês Feijóo.
"Foi uma dura decepção, reconheço que imposta por tempos adversos e por ideias anacrónicas", insistiu Carlos Lage. Ao invés, o responsável da CCDRN felicitou "vivamente" a Junta da Galiza por esta ter obtido garantias de que a alta velocidade ferroviária ligará, em finais de 2015, a Galiza e Madrid. Garantias que, segundo Carlos Lage, colocam um pro- blema a Portugal: "O de acertar e garantir com as autoridades espanholas a futura articulação da linha Porto-Vigo" com o território galego e com a rede de alta velocidade em Vigo. "Esta questão é inadiável", avisou, lembrando ainda que, se este aspecto não ficar previamente resolvido, quando, no futuro, Portugal quiser retomar as ligações de alta velocidade "poderá deparar-se com dificuldades técnicas intransponíveis".
Cenário em que não quer nem pen- sar. "Eu não quero acreditar que, den- tro de alguns anos, a península esteja cruzada em todas as direcções por um comboio do nosso tempo e que Portugal, e em especial a Região Norte, mantenha o arcaico e isolado sistema ferroviário do século XIX, de bitola ibérica."
Outro "dissabor", para Lage, foi a in- trodução de portagens na ex-Scut A28. "Não posso deixar de assinalar a forma deselegante para com os cidadãos galegos como decorreu a introdução das portagens na A28, que roçou mesmo a desconsideração", avaliou. O líder da CCDRN lamentou "profundamente que os galegos que se deslocam a Portugal por motivos de turismo ou trabalho se tenham sentido perplexos ou indignados". "Muitas vezes, a minha indignação foi igual à deles", disse.
Já entre os "êxitos e inovações", La- ge elencou o arranque da macro região Norte de Portugal, Galiza e Castela-Leão, o funcionamento do Agrupamento Europeu de Cooperação Territorial Galiza- Norte de Portugal e o Laboratório Internacional de Nanotecnologias.
Antes do discurso de Lage, o novo presidente da euro-região Galiza-Norte de Portugal, Nunês Feijóo, declarou aos jornalistas: "As portagens não vão impulsionar as relações turísticas e empresariais" entre Portugal e Espanha. Mas Feijóo reconhece que "o Estado português tem todo o direito de introduzir portagens nas suas auto-estradas". E, uma vez que a decisão foi tomada, apela agora a que se tente, "entre todos, facilitar e desburocratizar o pagamento", nomeadamente, através da colocação de sistemas de pagamento "efectivo", em dinheiro ou em cartão.