Pedro Quedas, in Diário Económico
Curso do Insead chega agora a Portugal pela mão do Instituto de Empreendedorismo Social para ensinar que é possível um projecto ajudar socialmente e manter-se economicamente viável.
Como criar um negócio que ajude pessoas mas se mantenha economicamente viável? Como conseguir um negócio sustentável sem perder de vista o impacto na sociedade? O segredo está nas parcerias. Foi esta a grande mensagem que passou no IV congresso do Instituto de Empreendedorismo Social, que teve lugar a 15 de Março, no Centro Cultural do Cascais, e voltou a dedicar toda a sua atenção a este modelo de negócio que tem vindo a ter cada vez mais seguidores em Portugal.
O que é, então, um empreendedor social? "Um empreendedor social pode criar lucro mas antes de o ter tem, na sua génese, a vontade de dar resposta a um problema social", explica Miguel Alves Martins, director executivo do IES. "Poder gerar algum tipo de mais valia financeira é óptimo, até para se conseguir alguma sustentabilidade, mas não é o objectivo principal. Na altura de tomar uma decisão estratégica, o empreendedor social pende para o impacto social".
Para além da reflexão sobre o que está e o que deve se feito nesta área, o congresso também funcionou como anfitrião para a assinatura de um acordo que traz a Portugal os cursos de formação para líderes do sector social "IES Powered by Insead". A iniciativa, que conta com a Câmara Municipal de Cascais e a Fundação EDP como mecenas, irá contar com o apoio de professores da escola de negócios de topo Insead.
Filipe Santos, director do programa de empreendedorismo social do INSEAD e um dos responsáveis pela própria criação do IES, explica que "vão haver dois programas: um semelhante ao programa de cinco dias que é dado no Insead, o ISEP [Insead Social Entrepreneurship Programme], e outro que será o "Boot Camp", um fim-de-semana intensivo de empreendedorismo social para pessoas que tenham um projecto novo ou uma ideia de negócio na área social ".
Sector social está a crescer
Outro dos grandes objectivos deste congresso foi mostrar o bom trabalho que já vai sendo feito pelos empreendedores sociais portuguesas. Casos de sucesso como o da Escolinha de Rugby da Galiza, um projecto desenvolvido no ATL da Galiza, perto de Oeiras, e que visa utilizar o desporto como elemento de união e formação para crianças de ambientes mais desfavorecidos. Um modelo com tanto sucesso que já está a ser aplicado em outras 12 organizações espalhadas pelo país.
"Para a dimensão e massa crítica que tem, Portugal já tem muito boas iniciativas neste momento. Portugal tem um sector social muito importante, várias organizações de apoio social bastante relevantes", salienta Filipe Santos, do Insead. O professor universitário, que lançou, em 2005, um programa de empreendedorismo social na escola de negócios que divide o seu campus entre a França e a Singapura, destaca a adesão que teve por parte de alunos portugueses logo desde a sua criação. "Houve três portugueses em 30 no primeiro programa. Em 250 participantes, ao longo dos anos, eu diria que cerca de 10% são portugueses, o que, para a dimensão comparativa do país, é bastante elevado".
A criação destes cursos mostra o importante papel que as universidades têm de desempenhar no desenvolvimento desta área. "O grande objectivo é influenciar a sociedade através dos nossos alunos. Qualquer gestor tem de perceber que, mais do que apenas fazer contas, o seu trabalho é criar soluções para as pessoas", defende Daniel Traça, subdirector para os programas pré-experiência da Nova School of Business & Economics, que acrescenta que "antes as pessoas estavam muito formatadas para trabalhar nas empresas. Talvez porque sabiam que essa progressão era quase garantida. Hoje tudo isso mudou".
Os bons resultados que temos tido não significam, no entanto, que não haja ainda muito para fazer, lembra Miguel Alves Martins, do IES. "Em Portugal, os protagonismos individuais ainda se sobrepõem, muitas vezes, aos objectivos das próprias organizações. Ainda vivemos muito em ilhas, não temos escala, causamos pouco impacto", aponta, lembrando que o objectivo de uma empresa de âmbito social deve "ser sempre alcançar a sua missão, mesmo que isso signifique fechar as suas portas. Se sou mais forte aliando-me a outra estrutura, devo fazê-lo". O segredo está nas parcerias.
Casos de sucesso
Livros infantis para todos
O projecto "4 Leituras" consiste na edição de livros adaptados para as diferentes necessidades especiais das crianças. A editora Cercica criou o primeiro livro universal, contendo quatro versões gráficas para uma mesma história, com um DVD em Língua Gestual Portuguesa, uma versão áudio e em Símbolos Pictográficos para a Comunicação, e uma versão impressa em Braille.
Vida activa para deficientes
O Complexo de Serviços para a Comunidade, criado pelo CRID - Centro de Reabilitação e Integração de Deficientes, consiste num espaço onde funcionam empresas sociais como uma papelaria, lavandaria, reparação de calçado, reparação de electrodomésticos ou artes decorativas. Nesta iniciativa, pessoas com deficiência trabalham por conta própria e com autonomia.
Rugby ajuda na formação
A Escolinha de Rugby da Galiza, do ATL da Galiza da Santa Casa da Misericórdia, perto de Oeiras, visa a consolidação de um espaço de intervenção comunitária através do desporto, desenvolvido para a formação humana e desportiva de crianças e adolescentes fragilizados por ausência de estrutura familiar. Um modelo de sucesso que já foi aplicado em outras 12 instituições.
Jogos promovem vida saudável
No Espaço Vitamimos, a instalar na Quinta da Alagoa em Carcavelos, funcionará um Centro de Educação Alimentar onde se pretende dinamizar a educação e desenvolvimento dos mais novos, promovendo momentos divertidos e educativos, com o objectivo de intervir na prevenção da obesidade infanto-juvenil, através da promoção de estilos de vida saudáveis.
Reutilização de produtos
Através da iniciativa "Reutilização", o Centro Comunitário de Carcavelos espera promover um novo conceito de consumo de menor impacto ambiental através da recolha de todo o tipo de produtos e equipamentos que são canalizados para doação a famílias necessitadas; sem-abrigo e tóxico-dependentes; outras instituições; e revenda para a comunidade, a preços simbólicos.
Voluntariado no Parque do Alvão
Aqui temos uma solução que assenta na criação de uma bolsa de voluntariado que organiza acções no Parque Natural do Alvão, ao longo do ano, para públicos diversificados, com objectivos e trabalhos diferenciados, de acordo com as necessidades do próprio parque e com o acompanhamento científico da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD).
Empréstimos na área da Saúde
Através de um sistema de empréstimo temporário de equipamento médico especializado, possibilita-se, com este projecto, a alocação destes equipamentos onde eles são realmente precisos e evitar o desperdício da não utilização do mesmo. Esta iniciativa é desenvolvida em parceria com o Hospital de Vila Real e a Delegação de Sabrosa da Cruz Vermelha.
Produção local em exposição
A falta de iniciativa da população na produção local motivou a criação da Loja Eco, anexa ao Ecomuseu do Barroso, onde pequenos produtores e artesãos locais podem expor e comercializar os seus produtos. Paralelamente, esta iniciativa visa criar uma rede de parcerias com diversos tipos de organizações para a sustentabilidade da produção dos vários produtos oferecidos.
Atletismo contra abandono escolar
Criado para evitar comportamentos de crianças e jovens associados ao álcool, drogas e abandono escolar, o "Núcleo de Atletismo" consiste numa abordagem integrada ao desenvolvimento pessoal de crianças e jovens do Concelho de Sabrosa, procurando motivar o trabalho em equipa e a disciplina, através de uma maior atenção às crianças e jovens e suas famílias.
Agricultura integra deficientes
A "Oficina Agrícola" assenta no aproveitamento de uma área agrícola de meio hectare onde 12 utentes do CADAT - Centro de Apoio ao Deficiente do Alto Tâmega, com deficiência moderada ou ligeira, cultivam os mais variados produtos agrícolas e hortícolas. Esta actividade, inserida na terapia ocupacional do Centro, é orientada por uma engenheira agrónoma.