5.4.11

Estado deveria tributar fortemente crédito ao consumo

in Diário de Notícias

O economista Silva Lopes considerou hoje que o corte das despesas em Portugal tem de ser feito nos produtos com grande conteúdo de importações, pelo que sugeriu "tributar fortemente" o crédito ao consumo.

"Há que aumentar alguns impostos especiais, por exemplo tributar fortemente o crédito ao consumo", disse Silva Lopes no decorrer da Conferência "Novas vestes da União Europeia", organizada pelo Instituto de Direito Económico Financeiro e Fiscal, da Faculdade de Direito de Lisboa.

O economista explicou a sua sugestão, argumentando que essa forte tributação iria "libertar" dinheiro que os bancos actualmente estão a negar ao crédito às empresas.

"Os bancos ficariam com mais dinheiro para emprestar às empresas e limitava-se as importações, porque o crédito ao consumo é usado essencialmente para produtos com grande conteúdo de importações, não é para comprar cenouras de Torres Vedras", disse Silva Lopes.

Para o economista, "a prioridade absoluta de Portugal deveria ser a adopção de medidas que limitem o conteúdo de importações na procura interna", exemplificando que quando um português compra um automóvel cerca de 80 por cento do dinheiro segue para fora do país.

"Até quando vamos ao restaurante estamos a mandar dinheiro para fora para pagar o açúcar da limonada", disse.

A razão principal para a medida que sugeriu é que o mercado de crédito está quase fechado para Portugal.

"Lá fora ninguém nos empresta dinheiro. O crédito externo está seco. Acabou-se", disse Silva Lopes, que deixou uma pergunta.

"Se não contarmos com estes mercados externos, o que nos resta? O auxílio externo oficial", ou seja o Fundo Europeu/FMI, disse o economista. "Ou vem do Banco Central Europeu - que já deverá ter despejado 50 mil milhões em Portugal - ou do Fundo Europeu/FMI. Há maneira de evitar? Eu não vejo maneira", afirmou.

"O FMI é repressivo, faz-nos adoptar medidas duras - e umas piores que as outras - mas não vejo alternativas", repetiu.

Num balanço sobre culpas passadas, o economista disse que "a crise actual não foi só criada por este governo, foi também pelos anteriores" e acrescentou outras entidades que contribuiram para o problema.

"Não foi só o Estado, o problema da dívida é também do individamento do sector privado e das famílias, ao pedirem empréstimos aos bancos e depois estes a terem de ir buscar dinheiro às instituições lá fora", sublinhou.

"É muito redutor dizer que esta crise é só culpa deste governo", disse Silva Lopes, ressalvando porém que também o governo de José Sócrates já deveria ter admitido o recurso à ajuda externa.