5.4.11

Redução da procura interna vai aumentar desemprego

in Diário de Notícias

O presidente do Conselho Económico e Social considerou hoje "erradas" as políticas de redução da procura interna da UE e do FMI pois levarão a um forte aumento do desemprego, afirmando que a correção orçamental não deve impedir o crescimento.

"Não concordo com as políticas de redução da procura interna, que é receita da União Europeia (EU) e do Fundo Monetário Internacional (FMI)", já que "a pressão sobre o desemprego será enorme", afirmou Silva Peneda, na Conferência 'Novas Vestes da União Europeia?', na faculdade de Direito da Universidade de Lisboa.

"A redução da procura interna será irresponsável", frisou.

Para o responsável a disciplina orçamental de cada Estado-membro tem de ser feita com alguns cuidados: "Sendo necessária uma forte disciplina orçamental, não pode ir ao ponto de impedir o crescimento económico", afirmou Silva Peneda, que se mostrou preocupado com a situação que vive Portugal mas também a União Europeia.

"O meu 'rating' passou de preocupado a desesperado", garantiu.

Para o responsável, a saída para a crise que o país atravessa passa pelo impulso à produção de bens e serviços transacionáveis, o que deve mesmo passar pela concessão de benefícios.

"Teria de ser criada uma descriminação positiva destinada a apoiar produção de bens e serviços transacionáveis", afirmou, lembrando que o Conselho Europeu de março não tomou qualquer posição nesse sentido e que este "foi uma desilusão".

Silva Peneda defendeu ainda a emissão de dívida europeia conjunta, eurobonds. "Pensar de uma única entidade emitente para divida da zona euro é consequência lógica da integração do euro", disse.

Afirmando a necessidade de repensar o modelo em que se baseia o projeto europeu, Silva Peneda defendeu mudanças do modelo de financiamento da União Europeia, através do maior recurso de receitas próprias, e também de maior coordenação das políticas fiscais, que "diminuam a carga fiscal do fator trabalho face a outros fatores, nomeadamente o capital".

Além disso, acrescentou, a Comissão Europeia deve apresentar uma "receita sistémica para a crise" em vez de apenas "secretariar as reuniões do Conselho".

Para Silva Peneda, a União Europeia está neste momento num processo de federalização, mas em áreas que não são as indicadas.

"Há um movimento em que [a UE] se vai federalizando no domínio social, o que não é necessário, e não se federaliza no que é necessário, em termos económicos", sublinhou.