1.4.11

Já faliram 12 empresas por dia este ano

por Ilídia Pinto, in Diário de Notícias

Comércio, construção e imobiliário responsáveis por metade dos 1066 processos de insolvência no trimestre.

O número de falências em Portugal não pára de aumentar, apesar de algum abrandamento no início de ano. Ao todo, nos primeiros três meses deste ano 1066 empresas pediram a insolvência, mais 1,91% que nos primeiros três meses de 2010. Ou seja, em média, encerraram 12 empresas por dia.

Os dados, elaborados pelo Instituto Informador Comercial, indicam que o comércio e a construção, promoção e actividades imobiliárias são os sectores mais afectados pela crise, representando praticamente metade das insolvências (528 no trimestre). O que não surpreende dada a retracção no consumo e acentuada quebra nas obras públicas. E o aumento dos impostos.

"Não há forma de estranhar" estes dados, atendendo a que "estão a par do crescimento do número de desempregados oriundos do comércio e da diminuição do números de postos de trabalho no sector, atestado pelo Instituto Nacional de Estatística", diz Vasco Mello, vice-presidente da Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP).

A CCP denunciou já a perda de 40 mil empregos no comércio só no último ano. "Desde meados de Verão que chamamos a atenção para as medidas de austeridade que conduziriam a uma recessão, por via da diminuição do poder de compra, do aumento dos impostos e das taxas de juro", adianta o empresário. "Se não houver medidas de estímulo ao mercado interno, é evidente que as falências vão continuar a aumentar", alerta Vasco Mello.

Já Reis Campos, presidente da Federação Portuguesa da Indústria da Construção e Obras Públicas (Fepicop), mostra-se convicto de que o número de insolvências registadas "peca por defeito", na medida em que "estes são processos longos, que se arrastam no tempo". Os dados da federação apontam para o desaparecimento de 5130 empresas desde 2008, razão por que a existência de 260 empresas em insolvência desde o início do ano não o surpreende. "É uma situação que vem no seguimento dos 210 mil trabalhadores que o sector perdeu desde 2002 e da quebra de produção de 36% que regista desde então, fruto da falta de trabalho, das dificuldades no acesso ao crédito e das exigências de garantias exageradas e da indefinição de planeamento com que nos confrontamos", frisa. Reis Campos lembra que mesmo a reabilitação urbana, que "era a grande esperança do sector de construção", deverá agora sofrer atrasos decorrentes da queda do Governo e da necessidade de convocar eleições antecipadas. "Resta-nos a internacionalização", diz, salientando que "o sector vive numa situação--limite e com tendência para piorar".

Em termos geográficos, o distrito do Porto mantém-se como o grande perdedor de empresas (ver infografia), seguido de Lisboa e Braga, embora Vila Real e Braga tenham registado crescimentos significativos neste período.