Por Pedro Crisóstomo, in Público on-line
A crise mundial entrou numa nova e perigosa fase, e só com determinação colectiva os países desenvolvidos poderão responder aos problemas globais – o primeiro passo exige a redução do nível de endividamento público –, defende a directora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde.
Para a antiga ministra das Finanças francesa, os países desenvolvidos precisam de “planos credíveis” a médio prazo para reduzirem e estabilizarem os rácios de endividamento público. “As modalidades exactas variam de país para país”. Mas uma coisa é certa, diz Lagarde, “alguns não têm outra opção que não seja reduzir os défices hoje, sobretudo os países submetidos às pressões dos mercados”.
Esta é uma das propostas que a directora geral do FMI propõe como solução para a saída da crise mundial, num discurso divulgado hoje pelo fundo, que serve de base a uma intervenção de Lagarde no Woodrow Wilson Center, em Washington.
Na mensagem, a responsável insiste num apelo à “determinação colectiva” com respostas articuladas, mas com caminhos diferentes consoante os problemas de cada país. “Entrámos numa nova perigosa fase da crise [mundial]. Sem uma determinação colectiva, não conseguiremos devolver a confiança de que o mundo precisa”, frisou.
Num discurso centrado sobretudo nos países desenvolvidos, Lagarde lembra os receios de abrandamento da economia global e estabelece a prioridade dos Governos no curto prazo “em medidas que produzam o máximo de resultados, que criem empregos e dêem um impulso ao crescimento, e que tenham em conta factores relacionados com a repartição”.
Globalmente, o crescimento mundial mantém-se, mas a um ritmo mais lento. Recordando que o nível do desemprego nos países desenvolvidos se está a agravar e que as tensões nos mercados financeiros se acentuam ao mesmo tempo que a crise da dívida se agrava na Europa, Lagarde alerta que “sem uma acção colectiva decisiva, o risco de ver as principais economias andarem para trás em vez de avançarem é real”.
Lagarde fala num “círculo vicioso” que se intensifica e que é comum às maiores economias globais. O cenário é este: “O fraco crescimento e a fragilidade dos números – dos Estados, das instituições financeiras e das famílias – agravam-se mutuamente, geram uma crise de confiança e fazem diminuir a procura, o investimento e a criação de emprego”.
Lagarde não descarta as tensões sociais dos problemas da economia mundial, mas centra o discurso naquele que considera o problema “de longa data”: o risco de instabilidade no “coração” do sistema económico global.
Isso significa, segundo Lagarde, que no caso particular da Europa, os países devem resolver “os seus problemas de financiamento”. Em contrapartida ao equilíbrio das contas públicas, não terão de prosseguir com medidas que promovam o crescimento.