in Jornal de Notícias
O presidente do conselho directivo do Instituto da Droga e da Toxicodependência de Portugal disse à Lusa ser "preocupante" o possível corte de até 15% nos apoios públicos no tratamento de dependentes devido à crise económica.
"Há um esforço significativo e honesto por parte do Governo português. Mas, neste momento estamos, de facto, em dificuldades e previsivelmente no próximo ano vamos ter menos do que isso. Um corte de 10 a 15% é muito e vai criar dificuldades necessariamente", prevê João Castel-Branco Goulão.
O orçamento do Instituto da Droga e da Toxicodependência (IDT), gerido pelo ministério da Saúde, ronda os 75 milhões de euros, mas deverá sofrer uma redução de 10 a 15 por cento a partir de 2012.
O presidente do IDT falou à Lusa à margem do Encontro Estratégico sobre Segurança Pública e Política de Drogas, no Rio de Janeiro, que reúne esta semana dezenas de polícias e especialistas em segurança pública de diferentes países para debater a actividade policial e política de drogas, na sede da ONG Viva Rio.
Segundo Pedro Castel-Branco Goulão, aliado ao corte de custos pelo Governo, há factores preocupantes no terreno social como o desemprego que atingiu o seu auge dos últimos 100 anos.
Uma situação que propicia "que mais pessoas recorram a substâncias [aditivas], nomeadamente ao álcool. Há também probabilidade de mais pessoas recorrerem ao tráfico como actividade de sobrevivência", argumentou.
O IDT possui hoje uma rede de cerca de 1600 funcionários em 70 centros de tratamento espalhados pelo país e trata cerca de 50 mil pessoas, um número recorde de pacientes, a maioria dos quais são utilizadores de heroína, embora a cocaína tenha ganhando alguma importância.
O perfil é de 80 por cento de homens a volta dos 30 aos 40 anos de idade de diferentes camadas sociais, "desde os mais marginalizados até as classes mais abastadas do país".
O aperto nos gastos do governo, especialmente para esta área da saúde, vem justamente no momento em que foi anunciada a reestruturação do instituto que passará a chamar-se Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e Dependências (SICAD).
João Goulão, que preside o instituto desde 2005, explicou que a intenção é ampliar a actuação até final do ano.
"Temos a perspectiva no futuro de lidar com outros tipos de dependências sem substância, como o jogo, a Internet ou compras. Será um instituto de dependências de uma forma mais ampla. Ainda está incipiente, estamos a trabalhar nos conteúdos, na missão e nos estatutos do serviço".