in Público on-line
O Presidente da República disse hoje em entrevista a um diário holandês que o fim da Zona Euro seria um “verdadeiro desastre”, pois isso implicaria um regresso ao proteccionismo.
“A Europa constituiria um bloco frágil perante a China e os EUA. Portugal quer muito manter o euro, não há nenhuma discussão sobre isso. Seria um desastre terrível se o euro desaparecesse”, indicou Cavaco Silva ao diário económico holandês “Financieele Dagblad”.
O Presidente português defendeu, igualmente, a necessidade de “uma nova atitude da Europa”, sublinhando que “não se pode falar somente de sanções e cortes”. “Os Estados europeus devem não apenas falar da responsabilidade como também da solidariedade”, frisou o chefe de Estado.
“Sinto essa falta no Conselho Europeu”, reconhece o Presidente da República, que lembra que tal não acontecia quando exercia o cargo de primeiro-ministro, nos finais da década de 80 e início da década de 90.
O chefe de Estado ressalva, porém, que o reforço da solidariedade não deve significar que os cortes sejam menos rigorosos.
Paralelamente, deve ser encontrado um caminho para a recuperação económica, o que no caso de Portugal significa “exportar mais”, reforçou ainda o Presidente.
Na entrevista ao diário holandês - que está a publicar um conjunto de reportagens e entrevistas sobre Portugal e a forma como se está a viver a crise - Cavaco Silva deixa ainda uma sugestão aos próprios holandeses, lembrando que, como país com um superavit tão elevado na conta corrente, “poderia fazer mais em favor do crescimento da Europa”.
O Presidente da República reitera ainda as críticas à forma como os líderes europeus têm reagido à crise, considerando que “demasiados erros foram cometidos”: “Como é que se pode ter sido tão ingénuo exigindo uma contribuição aos detentores privados de títulos públicos? Disse logo que isso minaria a confiança. Onde esteve a razão? Esse erro teve como consequência imediata um maior prémio de risco, mas felizmente foi recentemente corrigido”, refere o chefe de Estado, apontando esta correcção como “um dos poucos desenvolvimentos positivos do último conselho europeu.
Cavaco Silva “muito preocupado” com coesão social
O Presidente da República reconheceu igualmente que está “muito preocupado” com a coesão social e diz estar a fazer tudo para limitar as consequências sociais da crise, insistindo que o diálogo entre PSD e PS “é muito importante”.
“A crise requererá muito tempo, devemos romper o círculo vicioso. Temos uma recessão e o desemprego aumenta rapidamente. Ando muito preocupado com a coesão social, com o desemprego entre os jovens, com o perigo da exclusão social dos pobres. A nossa resistência vai ser muito posta à prova em 2012”, afirmou o chefe de Estado na mesma entrevista.
Insistindo que deve ser encontrada uma “certa igualdade e um equilíbrio na repartição dos encargos da crise”, Cavaco Silva falou ao longo da entrevista das “medidas duras de austeridade” que o Governo “pretende realmente implementar” e sublinhou a “grande responsabilidade patriótica” que os portugueses têm demonstrado.
“Queremos mostrar que fazemos o que devemos fazer. Claro que as pessoas não estão satisfeitas. Mas é o momento para reparar os nossos erros”, defende Cavaco Silva, contestando as previsões negativas de que Portugal não conseguirá vencer a crise.
Apontando o excessivo investimento em bens não transaccionáveis como um dos erros cometidos pelos portugueses, que beneficiaram do euro e tiveram “uma vida fácil”, o Presidente da República lamentou a forma como o país negou as consequências da impossibilidade de ter uma política de taxas de câmbio, concluindo: “Fomos, portanto, demasiado negligentes”.
Portugal enfrenta um “grande desafio”, precisa de reforçar o sector da produção para exportar mais e para tornar desnecessária parte das importações, estimou Cavaco.
O Presidente da República renovou também os apelos ao diálogo entre PSD e PS: “Nas condições actuais tento fazer tudo para limitar as consequências sociais da crise. O diálogo entre o PSD e o PS é muito importante”, defendeu, recordando que os socialistas não votaram contra o Orçamento do Estado para 2012 e que isso é “muito positivo”.Contudo, acrescentou, o diálogo com o PS “continua a ser muito necessário”.
Além disso, referiu ainda Cavaco Silva, é igualmente “essencial” a concertação tripartida do Governo com os sindicatos e o patronato.