in Diário de Notícias
O agravamento do desemprego e das desigualdades sociais em 2012, um ano que ficará marcado pela recessão "mais dura de sempre", será de profunda conflitualidade social, segundo os líderes da UGT e da CGTP.
"Arriscamo-nos perigosamente a ter um clima de grande conflitualidade social" em 2012, disse à Lusa o secretário-geral da UGT, João Proença, acrescentando que o próximo ano "vai ser o mais difícil desde que o país vive em democracia com o desemprego a atingir o maior nível de sempre, com a recessão mais dura de sempre".
No entender do sindicalista, em 2012 Portugal vai enfrentar "um clima de explosão de descontentamento pelo não aumento de salários, pela situação de aumento do desemprego, encerramento de empresas e de salários em atraso".
Por tudo isto, João Proença não tem dúvidas que estão reunidos os fatores para que haja "um grande volume de descontentamento" que poderá por em causa o futuro do país.
E se, no entender do sindicalista, é um facto que Portugal tem de cumprir o memorando de entendimento assinado com a 'troika' que, por si só, impõe já medidas "extremamente duras", também é verdade que a sua aplicação "levada ao extremo" vai provocar nas famílias "mais sacrifícios e menos poder de compra".
"Será que Portugal vai continuar numa recessão em 2013 ou começa a criar condições para começar a crescer já em 2012?", interroga-se João Proença.
E quando questionado sobre em que acredita o dirigente de uma central sindical, que a 24 de Novembro se aliou à CGTP para a realização de uma greve geral conjunta, João Proença revela que a sua crença "depende muito do que seja o clima de conflitualidade e de diálogo social em Portugal".
Não nega, por isso, ter receio de que Portugal se aproxime "perigosamente da situação na Grécia, um país onde, de facto, não há diálogo social nem político".
Também Carvalho da Silva admite temer o futuro e, em particular, "a destruição da democracia, da justiça e da dignidade".
O secretário-geral da CGTP não duvida que "as políticas que estão em curso vão provocar mais pobreza, uma recessão económica agravada, perda de criação de riqueza e mais desigualdades" mas, argumenta, "o risco da perda de soberania e o ataque à democracia começam a ser expostos e configuram-se como muito violentos".
Carvalho da Silva defende, por isso, a acção, isto é, que "o desafio vai ser um desafio de ação, um desafio de participação e de exigência de alternativa".
"Quando nos dizem que não há alternativas e tudo isto é inevitável, quem afirma isso está a negar a democracia, e portanto temos de agir", defende, uma vez que "na luta pela dignidade e pela justiça vale tudo".
De acordo com o secretário-geral da Intersindical, o Governo tem falhado ao não informar os portugueses da realidade e apela, por isso, à responsabilidade dos governantes que acusa de governarem de acordo com os interesses de "credores e agiotas".
"Neste momento, a manipulação dos conteúdos que o Governo vai assumindo é uma coisa muito preocupante e o Governo comporta-se como membro de um país ocupado", denuncia Carvalho da Silva.
Entende que o Executivo "nas suas discussões e nas suas fundamentações, não parte de um problema objetivo da realidade social, económica e política, para discutir saídas" da crise.
Apesar do clima económico difícil, não só em Portugal como em toda a Europa, Carvalho da Silva alerta para "a evolução de posições de extrema-direita", não só a nível europeu, mas também ao nível nacional e apela à mobilização social.
"Pela democracia e pela dignidade vale tudo e há que fazer uma mobilização social, o máximo que se puder, procurando descobrir denominadores comuns", afirma.
E concluiu: "Seremos capazes de encontrar essas alianças? Esse é o desafio que está colocado e a participação das gerações mais jovens é sinal que vêm aí tempos de mudança".