in Agência Ecclesia
Adriano Moreira, presidente do Instituto de Altos Estudos da Academia das Ciências de Lisboa, alertou para as consequências da “verdadeira anarquia em que se vive” no mundo de hoje e para a pobreza que chegou à Europa.
“A pobreza e as armas de destruição maciça são ameaças equivalentes para a catástrofe que é sempre a guerra”, escreve, em texto hoje publicado pelo semanário Agência ECCLESIA, sobre a mensagem de Bento XVI para o Dia Mundial da Paz 2012, que se assinala a 1 de janeiro.
Para o antigo ministro e deputado português, “o certo é que os desvios das promessas se agravam, que a miséria alastra e aprofunda-se em muitas regiões do mundo, que a guerra lhes serve frequentemente de moldura”.
A própria Europa, acrescenta o académico, “está hoje atingida pela distinção entre povos ricos e povos pobres, vê o Mediterrâneo em turbilhão preocupante, verifica que a fronteira da pobreza ultrapassou esse Mar euroafricano para abranger muitos países a norte”.
Adriano Moreira aponta o dedo a uma “crise de valores que atingiu todo o Ocidente, o qual evoluiu para um credo de mercado que colocou o preço das coisas no lugar do valor das coisas”.
“Seguramente, a falta de confiança nas governanças políticas existentes, a desordem mundial, o aprofundamento da distância entre sociedades ricas e sociedades pobres, o recurso à violência da guerra e também na vida das sociedades civis, fazem com que a esperança se dirija orando à transcendência”, prossegue o vencedor do Prémio de Cultura 'Árvore da Vida-Padre Manuel Antunes' 2009, atribuído pela Igreja Católica em Portugal.
Neste contexto, o professor universitário destaca “a resposta consistente da Igreja, pela voz dos Papas humanistas do século XX, designadamente João XXIII, Paulo VI, João Paulo I, João Paulo II e agora Bento XVI”, falando aos povos “quando estes enfrentam globalmente a tormenta desencadeada por governanças, formais ou informais, que colocaram os valores instrumentais acima dos valores essenciais da verdade, da justiça, do amor e da paz”.
A paz, acrescenta, “é um valor permanente na doutrinação da Igreja”, destacando “a presença de teólogos-juristas na formulação do direito internacional que visa protegê-la”.
“Não faltou o ensinamento do magistério católico de que a miséria, a distinção entre povos afluentes e consumistas, e povos que habitavam o que foi chamado a geografia da fome, era uma ameaça à paz”, recorda Adriano Moreira, num texto que integra a secção especial dedicada ao Dia Mundial da Paz.