Ana Marcela, in Dinheiro Vivo
Dizia a tradição que depois do Natal começavam os saldos e as promoções a metade do preço. Hoje a tradição já não é o que era. A 'culpa' é da conjuntura.
Os preços do vestuário ou outros produtos de consumo sofreram o mesmo que o subsídio de Natal dos portugueses: um corte. Um grande corte. “Este ano, fruto da conjuntura, adoptámos uma política promocional mais agressiva para ir ao encontro das necessidades dos nossos clientes, sobretudo nas áreas mais sensíveis na época do Natal”, admite Susana Fernandes do Departamento de Relações Externas do El Corte Inglés. À conjuntura junta-se a campanha do 10º aniversário da cadeia em Portugal, tendo havido um reforço das campanhas da época de Natal, descreve a responsável.
Na Q&A a estratégia para esta época pré-natalícia foi uma aposta nas promoções. Promoções a sério. “No mês de Dezembro os preços serão mais acessíveis, ligados a promoções semanais, ao mesmo tempo vamos realizar promoções consistindo em ofertas com descontos de 30% e 50%”, informa Magda Santos, porta-voz da cadeia de lojas em Porttugal. “Desta forma disponibilizamos uma melhor oferta para toda a família”, justifica. Mais oferta e descontos “agressivos” do que em relação a 2010, admite a responsável da Q&A Portugal. “Tanto os descontos promocionais como os preços das nossas ofertas semanais em Dezembro serão mais agressivos que os preços aplicados no ano passado”, assegura Magda Santos. “O número de peças que se vai disponibilizar ao cliente em todas estas ofertas superam aproximadamente 20% em relação ao exercido anteriormente”, adianta. Tudo com um objectivo em mente: segurar os níveis de facturação do ano passado. “Acreditamos que o nosso negócio responde eficazmente às necessidades dos nossos clientes. Para eles, desenvolvemos acções específicas e estamos confiantes em conseguir resultados equivalentes aos da empresa no ano 2010”, afiança Magda Santos.
Um raciocínio com o qual João Vieira Lopes, presidente da Confederação de Comércio Português, está bastante familiarizado. “Este ano no mercado a maior parte dos sectores está em baixo”, constata. Muitas empresas, lembra, aproveitavam a época do Natal para escoar stock e recuperar atrasos nas vendas. Agora a opção parece ser desfazer-se do stock, mesmo à custa das margens de lucro, com descontos “que podem atingir a 70%”. “Estimamos que este ano hajam quebras na ordem dos 15% em todo o sector, com a área automóvel, têxtil, electrónica de consumo a serem os mais atingidos”, perspectiva o presidente da Confederação de Comércio Português. Nestes sectores, o dos chamados bens duráveis e semi-duráveis, assiste-se a uma quebra de procura “muito acentuada”. “Nestes sectores a perspectiva é que haja quebras acima dos 30%”.
O governo aponta este ano para quebras de 3,5% do consumo privado. Em 2012 as previsões de Miguel Gaspar, ministro das Finanças, não melhoram: é esperado um recuo de 4,8%.